São Paulo, quinta-feira, 15 de março de 2001

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O RISCO INTERNO

Das escaramuças políticas recentes, resta ao menos uma certeza: a luta sucessória está aberta. O gesto ostensivo do presidente Fernando Henrique Cardoso na tentativa de adiá-la, reunindo caciques tucanos para selar uma espécie de pacto de não-agressão, é sintoma disso.
FHC tem sabido sobreviver a golpes vindos de várias direções. Tem exercitado ao máximo suas habilidades conciliadoras. Exemplo notório foi o rompimento com o senador baiano Antonio Carlos Magalhães para logo depois nomear um ministro do círculo de amizades de ACM.
Porém a disposição para compor não tem sido bastante para acomodar aliados. Impressiona, por exemplo, que tenha sido tão breve a presença no cenário político da chamada "agenda" do governo para o período final de mandato. Seu anúncio foi logo tragado pela guerrilha de denúncias e ameaças entre facções que orbitam em torno do Planalto.
Nesse jogo, até o presidente do Senado, Jader Barbalho, reafirmou que o seu PMDB também deve ter candidato próprio. E que a discussão sobre a candidatura peemedebista deveria iniciar-se logo. Isso sem falar da "ameaça" de Jader de endossar CPIs incômodas ao Executivo.
Presente em muitas ações recentes das três legendas governistas, a tática é ameaçar sem romper, colocar pressão, mas manter-se perto do calor do poder. A prioridade é posicionar-se o melhor possível, e o quanto antes, para o processo sucessório.
A situação não chega ao ponto de ameaçar a condição de o presidente exercer um papel relevante na sucessão, mas aumentam os riscos de que esse poder de FHC sofra erosão. Até o ministro Pedro Malan chegou a declarar que talvez fosse melhor antecipar o debate sucessório para tentar conter a volatilidade nos mercados gerada por essa indefinição.
A deterioração do cenário internacional (que seguiu ontem com mais um dia de queda nas Bolsas dos EUA) contribui para aumentar a tensão no "front" interno. Se um ambiente politicamente definido e estável já pode muito pouco para conter os efeitos danosos de uma crise global, que dirá o contrário?


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