São Paulo, segunda-feira, 15 de março de 2004 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES A guerra do pós-guerra CARLOS DE MEIRA MATTOS
O amplo e planejado emprego do
terrorismo suicida em escala mundial, por grupos radicais islamitas, vem
abalando os tradicionais conceitos clássicos de guerra e de poder militar.
A maior dádiva da civilização ocidental cristã, a liberdade, passou a viver sob constante restrição e ameaças. O clima de expectativa de atentado vem obrigando as empresas aéreas a cancelar vôos internacionais, os viajantes a se submeterem a humilhantes medidas de segurança. Os congressistas norte-americanos, mais de uma vez, tiveram que abandonar às pressas o edifício do Parlamento ao sinal de alarme. O público freqüentador de museus, teatros e boates, nos países ameaçados, tem que se habituar ao clima de sobressalto ante um inesperado ato de violência. As autoridades são obrigadas a reforçar a proteção de túneis, pontes, aeroportos, portos, estações ferroviárias e de metrôs, aumentando enormemente a despesa pública com medidas de proteção. A liberdade de ir e vir, pérola da sociedade liberal democrática, está limitada. Com a queda do Muro de Berlim, em 1989, os analistas internacionais anunciaram o fim da bipolaridade do poder mundial e a inauguração da incontestável hegemonia política e militar dos Estados Unidos sobre todo o planeta. Após o 11 de Setembro, aos poucos vem voltando a bipolaridade, acentuando-se cada vez mais a força adquirida pelo radicalismo islâmico, através de sua arma indefensável, o homem suicida. Os países liberais democráticos, no curso dos últimos cem anos, enfrentaram três tipos de inimigos maiores, que tentaram destruir os fundamentos de sua cultura: Hitler, com o Estado racista; Stálin, com o Estado marxista; e agora o radicalismo islâmico, com o Estado religioso, intolerante. Comparando estes três inimigos, o conceituado analista político norte-americano Thomas Friedman considera o radicalismo islâmico o mais perigoso, porque os alemães e os russos tinham com os aliados um traço comum, prezavam a vida, queriam viver, e isso abriu algum espaço de entendimento para desradicalizar a guerra, enquanto o terrorista suicida só quer morrer. O terrorista suicida, o homem-bomba, o piloto suicida, movidos pelo fanatismo odioso e cego, estão prolongando o ambiente de guerra dos conflitos bélicos considerados formalmente terminados. É a guerra do após guerra. Carlos de Meira Mattos, 90, general reformado do Exército e doutor em ciência política, é veterano da Segunda Guerra Mundial e conselheiro da Escola Superior de Guerra. Texto Anterior: TENDÊNCIAS/DEBATES Saulo Ramos: Advogado e coronel Próximo Texto: Painel do Leitor Índice |
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