São Paulo, quinta-feira, 15 de março de 2007

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CLÓVIS ROSSI

A bolha de US$ 30 trilhões

SÃO PAULO - O que surpreende na turbulência presente nos mercados financeiros globais não é que esteja acontecendo, mas que tenha tardado tanto a aparecer.
Agora que as explicações para a taquicardia convergem para atribui-la à bolha imobiliária nos Estados Unidos, convém revisitar o seu tamanho.
É o seguinte: o aumento no valor dos imóveis nas economias desenvolvidas (não apenas nos EUA, portanto) foi de US$ 30 trilhões (trilhões, sim, senhor/a) entre 2000 e 2005. Dá umas 37 vezes tudo o que o Brasil produz por ano (o PIB, Produto Interno Bruto).
Ou, posto de outra forma, todos os brasileiros teríamos de trabalhar 37 anos consecutivos sem gastar nada para poder pagar só o aumento no valor dos imóveis.
Não há racionalidade econômica capaz de explicar esse fenômeno.
Tem um conteúdo especulativo formidável, estimulado pela engenhosidade dos agentes financeiros, capazes de inventar mil e um mecanismos para "dar" dinheiro a quem queria comprar imóvel.
Sou capaz de apostar que serão poucos os economistas, mesmo entre os melhores do mundo, capazes de saber (e explicar direitinho) todos os macetes desenvolvidos no megacassino financeiro a partir da interligação dos mercados.
Conseqüência inescapável da "generosidade" dos instrumentos financeiros colocados à disposição do público: o Federal Reserve (o Banco Central dos Estados Unidos) diz que nunca naquele país (certo, Lula?) as dívidas dos proprietários de imóveis foram tão elevadas, como proporção de suas rendas, desde que esse tipo de estatística começou, informa a revista "The Economist".
Agora, é torcer para que a inventividade dos mercados (e dos governos) consiga fazer a bolha murchar sem uma baita explosão proporcional ao seu tamanho.
Faça sua aposta.


crossi@uol.com.br

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