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CLÓVIS ROSSI
A bolha de US$ 30 trilhões
SÃO PAULO - O que surpreende
na turbulência presente nos mercados financeiros globais não é que
esteja acontecendo, mas que tenha
tardado tanto a aparecer.
Agora que as explicações para a
taquicardia convergem para atribui-la à bolha imobiliária nos Estados Unidos, convém revisitar o seu
tamanho.
É o seguinte: o aumento no valor
dos imóveis nas economias desenvolvidas (não apenas nos EUA, portanto) foi de US$ 30 trilhões (trilhões, sim, senhor/a) entre 2000 e
2005. Dá umas 37 vezes tudo o que
o Brasil produz por ano (o PIB, Produto Interno Bruto).
Ou, posto de outra forma, todos
os brasileiros teríamos de trabalhar
37 anos consecutivos sem gastar
nada para poder pagar só o aumento no valor dos imóveis.
Não há racionalidade econômica
capaz de explicar esse fenômeno.
Tem um conteúdo especulativo formidável, estimulado pela engenhosidade dos agentes financeiros, capazes de inventar mil e um mecanismos para "dar" dinheiro a quem
queria comprar imóvel.
Sou capaz de apostar que serão
poucos os economistas, mesmo entre os melhores do mundo, capazes
de saber (e explicar direitinho) todos os macetes desenvolvidos no
megacassino financeiro a partir da
interligação dos mercados.
Conseqüência inescapável da
"generosidade" dos instrumentos
financeiros colocados à disposição
do público: o Federal Reserve (o
Banco Central dos Estados Unidos)
diz que nunca naquele país (certo,
Lula?) as dívidas dos proprietários
de imóveis foram tão elevadas, como proporção de suas rendas, desde que esse tipo de estatística começou, informa a revista "The Economist".
Agora, é torcer para que a inventividade dos mercados (e dos governos) consiga fazer a bolha murchar
sem uma baita explosão proporcional ao seu tamanho.
Faça sua aposta.
crossi@uol.com.br
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