São Paulo, sábado, 15 de março de 2008

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Conta complicada

Na rede pública paulista, alunos chegam ao 3º ano do ensino médio sem saber realizar cálculos simples de matemática

AS PERGUNTAS eram bem simples, até para uma criança de 10 anos. Leia-se um exemplo: "A médica explicou que o paciente deveria tomar 1 comprimido do mesmo medicamento a cada seis horas. Quantos comprimidos desse medicamento o paciente deve tomar por dia?"
Poucos alunos de 4ª série serão capazes de resolver problemas assim se estiverem matriculados na rede estadual. Segundo os dados agora divulgados pela Secretaria da Educação, 80,8% dos estudantes da rede pública nessa faixa apresentavam, em 2007, níveis de aprendizagem abaixo do adequado.
No terceiro ano do ensino médio, 95,7% não atingem os padrões de desempenho previstos. Dificuldades com subtração e porcentagem se verificaram em 71% dos alunos que concluíam o colegial na escola pública.
São esses alguns dos resultados do Saresp (Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo).
Dentro desse quadro alarmante, é pelo menos positivo que finalmente, em 2007, o governo estadual tenha adequado seus métodos de aferição escolar (vigentes desde 1996), tornando-os comparáveis aos aplicados na esfera federal.
A despeito das possíveis vantagens de uma grande continuidade administrativa (a hegemonia tucana no poder estadual se prolonga desde 1995), e a despeito do nível de desenvolvimento econômico atingido pelo Estado, o desempenho do ensino paulista se mostra tão indigente quanto a média nacional.
Em matemática, a pontuação média obtida no ano passado pelas escolas estaduais foi de 231,5 na 8ª série, levemente abaixo da pontuação federal (232,9) em 2005. Considera-se "adequado" o nível mínimo de 300 pontos.
No último ano do ensino médio, no qual se espera uma pontuação acima de 350, a rede paulista contabilizou 263,7 pontos em 2007, contra 260 da média nacional em 2005.
A diferença reduz-se, portanto, a minúcias percentuais, do tipo daquelas que um aluno de rede pública, depois de 11 anos na escola, teria sérias dificuldades para calcular.
Progressos na qualidade educacional, como se sabe, são lentos e exigem grande empenho na qualificação dos professores, assim como no combate, que mal se inicia, ao absenteísmo endêmico na categoria e aos fatores de desestímulo que o originam.
Mínimas melhoras no ensino de português foram registradas pelo Saresp em comparação com 2005. Em matemática, a calamidade persiste.
A secretária estadual de Educação, Maria Helena Guimarães Castro, não sabe dizer quanto dos R$ 2 bilhões investidos na capacitação de professores foram destinados à área de exatas. "Essa conta eu vou ter de fazer imediatamente", declarou à reportagem. Só se pode esperar que não tenha dificuldades em chegar a um pronto resultado.


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