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Clima cético
Ação contra aquecimento global perde apoio nos EUA e alimenta visões mais pessimistas sobre a próxima cúpula do clima
A URGÊNCIA no combate
às mudanças do clima
provocadas pela ação
humana viu-se atingida, na semana passada, por duas
notícias. A primeira foi a divulgação de pesquisa de opinião segundo a qual quase metade dos
norte-americanos considera
exagerada a preocupação com o
aquecimento do planeta. São
agora 48% de "céticos", contra
41% em 2009 e 31% em 1997.
Diante do esvaziamento do
apoio popular torna-se mais improvável que o Senado dos Estados Unidos possa aprovar, neste
ano, projeto apresentado pelo
presidente Barack Obama para
cortar em 17%, até 2020, as emissões de gases do efeito estufa que
o país produzia em 2005.
É difícil crer que parlamentares, em ano de eleição, sintam-se
encorajados a votar uma lei contrária às crenças de metade da
população.
Uma outra notícia relevante
veio com o anúncio de que o
Conselho Interacademias, congregação de sociedades científicas de 15 países, entre os quais o
Brasil, liderará uma revisão externa dos procedimentos do
IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima).
O painel instituído pelas Nações Unidas para analisar periodicamente a evolução do clima
foi alvo de denúncias recentes
relativas a erros localizados, mas
significativos, em seus relatórios. Tratou-as de início com soberba, mas se rendeu a uma auditoria independente para salvar a
própria reputação.
Como se vê, há razão de sobra
para um pouco mais de ceticismo científico nos debates ambientais. Menos para Al Gore, o
ex-vice-presidente democrata
dos EUA, que perdeu a eleição de
2000 para George W. Bush e depois se lançou com zelo evangélico e senso midiático em campanha a favor do clima.
No auge, atraiu milhões de espectadores para o documentário
"Uma Verdade Inconveniente",
que lhe rendeu um Oscar e um
Nobel da Paz, ambos em 2007.
Em seu novo livro, "Nossa Escolha", e em entrevista para a
Folha, Gore diz que a humanidade já conta com tecnologia para
solucionar, não uma, mas três ou
quatro crises climáticas. Na sua
avaliação, que parece irrealista, o
projeto de Obama será aprovado
em poucos meses.
O ex-vice presidente dos EUA
parece não levar em conta a possibilidade de que a ascensão dos
"céticos" e os arranhões na imagem do IPCC contribuam para
erodir o apoio a metas ambiciosas de redução de emissões.
Como o enfrentamento do
problema exige a atuação conjunta de dezenas de nações, as
perspectivas para a próxima cúpula do clima, prevista para dezembro, no México, vão se tornando mais desanimadoras.
Mas a questão climática, para
ser enfrentada de modo satisfatório, precisa menos de crenças
otimistas ou pessimistas e mais
de análises objetivas das transformações da atmosfera. É com
apoio científico capaz de embasar decisões sensatas dos governos que se caminhará rumo à necessária reorientação da economia global.
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