São Paulo, terça-feira, 15 de março de 2011

Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Editoriais

editoriais@uol.com.br

Síndrome do Japão

Desastre nuclear depois de terremoto e tsunami deflagra dúvidas sobre ressurgimento da energia atômica como opção para gerar eletricidade

Primeira lição da emergência nuclear na central de Fukushima, Japão: os piores cenários podem, sim, materializar-se. Não bastasse o terremoto que forçou o desligamento da central atômica, um tsunami nocauteou geradores e bombas do sistema de resfriamento auxiliar de pelo menos três das seis usinas no local.
Dois golpes seguidos e certeiros, que lançaram por terra a aura de infalibilidade associada à cultura tecnológica japonesa de qualidade e segurança.
Prosseguindo a atual dificuldade de resfriar o combustível, não se descarta o derretimento total dos núcleos dos reatores. Uma perspectiva mais similar a Tchernobil (maior desastre atômico da história, em 1986, na Ucrânia), com liberação de grande quantidade de material radioativo.
Autoridades japonesas afastam a possibilidade desse outro pior cenário. Por toda parte, no entanto, o acidente já suscita discussão sobre a energia nuclear.
Apesar das dificuldades econômicas, o Japão está longe da decadência da União Soviética nos anos 1980. Se um desastre desses ocorre no país mais rico da Ásia, a terceira economia do mundo, pode acontecer em qualquer lugar.
Nenhuma central nuclear do planeta está protegida contra os mais graves episódios sísmicos possíveis no local, pois o custo do sistema de segurança seria proibitivo. Com base em análise de riscos, fixa-se o nível de probabilidade e gravidade do desastre (um evento a cada século, por exemplo) que as instalações devem ser capazes de suportar.
Segundo Michael W. Golay, especialista em engenharia nuclear do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts, EUA), não há no mundo, hoje, usina atômica pronta para sair intacta de um terremoto de intensidade 9 na escala Richter. Mas ele ocorreu no Japão.
O território brasileiro não está sujeito a sismos dessa magnitude. Tampouco a Alemanha; mesmo assim, a premiê Angela Merkel realizou reunião de emergência no fim de semana para reavaliar a segurança de reatores.
China e Índia, entre outras nações, anunciam que revisarão seus planos de expansão para termelétricas nucleares. Existem 443 usinas em operação no mundo, gerando 15% da eletricidade produzida, e 158 planejadas.
Diante do desastre de Fukushima, parece provável que esse "renascimento nuclear" seja posto em compasso de espera. No Brasil, servirá talvez para soterrar a ideia mirabolante aventada em 2008 pelo ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, de erguer 50 novas usinas, além das 2 em funcionamento (Angra 1 e 2), 1 em construção (Angra 3) e mais 4 previstas.


Próximo Texto: Editoriais: A liberalidade no BNDES

Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.