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ELIANE CANTANHÊDE
Bicos e penas
BRASÍLIA - Sem a Presidência,
sem a metade do PMDB que era deles, sem muita segurança no casamento com o DEM (ex-PFL) e sem
os mensaleiros que pulam em qualquer ninho, os tucanos parecem um
tanto esbaforidos. A cada pesquisa
confirmando a popularidade de Lula, penas voam, bicos afinam.
FHC observa tudo de longe, dando aulas nos EUA, mas vez ou outra
passa pelo Brasil para acalmar tucanos, uns poucos neo-democratas e,
agora, quase nenhum peemedebista. Nelas, admite que Lula está muito sólido -""não adianta tapar o sol
com a peneira"-, mas avalia que "o
tempo" vai mostrar o essencial: que
o governo Lula é fraco, não tem um
só programa, um só projeto, uma só
marca própria.
Se o governo é fraco, por que Lula
é forte? Em resumo, FHC ensina
aos aflitos tucanos e neo-democratas que Lula manteve a estabilidade, ampliou o Bolsa-Família que ele
próprio implantou como Bolsa-Escola e foi beneficiado pelo cenário
internacional, quando, na era tucana, houve quatro crises. Nada disso,
acha, dura para sempre.
Além disso, FHC e seus tucanos
analisam que os partidos não viram
na campanha e não estão vendo
agora outra perspectiva de poder
fora Lula e que a origem operária
cria constrangimento em setores
intelectuais que se sentem compelidos a aplaudir tudo o que Lula faz.
E, enfim, o mais importante é que
Lula aderiu à lógica do mercado e o
capital está feliz com ele. Ninguém
quer mexer em ninguém.
Na avaliação do grão-tucanato,
isso tende a mudar em dois anos,
quando Serra e Aécio puderem se
desligar um pouco da condição de
governadores para se posicionar
como candidatos, abrindo uma nova perspectiva de poder e novos pólos de atração de partidos, parlamentares e do tal mercado.
Que os tucanos nos ouçam, mas
vale uma ressalva: se é que, até lá,
Lula já não terá engolido todos, até
o próprio Serra e o próprio Aécio.
elianec@uol.com.br
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