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CARLOS HEITOR CONY
O sonho possível
RIO DE JANEIRO - Sem contestar a canção do Homem de la Mancha, acho que os sonhos podem se
tornar possíveis. O problema é maneirar, esperar um pouco -o afobado come cru ou nada come. Mesmo
que o sonho não se realize, fica a esperança: "se tivesse mais tempo".
Passei parte de minha infância
querendo ser invisível. Li o livro e vi
o filme de Claude Rains e o sonho ficou recorrente. Se pudesse me tornar invisível, não precisaria ser por todo o tempo, bastavam algumas
horas por dia. Faria grandes coisas
que nunca fiz justamente por causa
da minha visibilidade medíocre,
mas suficiente para não poder apreciar uma vizinha nua na hora do banho, entrar na confeitaria Indiana e
comer todas as empadinhas de camarão, penetrar no gabinete do
chefe da Polícia Especial e obter
provas das torturas ali praticadas.
Não soube esperar, e agora de
pouco me vale a invisibilidade. O físico Vladimir Shakaev, da Universidade de Purdue, nos Estados Unidos, garante que em dois anos estará pronto o protótipo capaz de tornar pessoas e objetos invisíveis.
Minúsculas agulhas embebidas
em vidro provocariam a dobradura
dos raios de luz em torno da coisa
ou do corpo protegidos, fazendo os
observadores enxergarem o cenário por trás da capa.
Acho que a tal capa do físico Vladimir Shakaev já foi inventada e está em uso aqui no Brasil. Não por
guris concupiscentes que querem
ver (sem serem vistos) a vizinha
nua. Basta dar uma olhada na lista
de roubos e assassinatos que nunca
são descobertos.
Repito: não custa esperar. O professor Susumu Tachi, da Universidade de Tóquio, está trabalhando
num casaco com câmeras que captam a parte de trás e a projetam para a frente. O resultado é o mesmo:
ninguém vê nada nem sabe de nada,
como o presidente Lula.
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