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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES
A ineficiência do Estado
DOIS FATOS me intrigam. Segundo pesquisas recentes, o
Estado brasileiro é bem menos eficiente que o setor privado.
Ao mesmo tempo, a busca por um
emprego público cresce a cada dia.
Os dados mostram que a máquina estatal está inchada, investe
pouco, desperdiça muito, é extremamente cara (37% do PIB) e garante estabilidade a bons e maus
funcionários ("Setor público é menos produtivo", "Estado de S. Paulo", 18/3).
Mas será que os jovens buscam
deliberadamente as organizações
ineficientes?
Penso que essa tendência reflete
a situação atual. Em vista do baixo
crescimento econômico e da reduzida oferta de empregos, é evidente
que eles busquem trabalhar nos órgãos do governo, que empregam
mais por apadrinhamento e menos
por concurso.
Mas não é só isso. Uma pesquisa
realizada pelo professor Nakano,
da Fundação Getúlio Vargas, mostra que os ganhos dos servidores
públicos são substancialmente
mais altos do que a média do setor
privado, quando se leva em conta
os salários, os benefícios e as generosas aposentadorias e pensões
(Yoshiaki Nakano, "Salários no setor público são muito maiores do
que no setor privado", "Valor", 21/
11/2006).
Isso nos leva a concluir que, com
honrosas exceções, os funcionários
públicos, comparados com os do
setor privado, ganham mais e são
menos eficientes, admitindo-se até
que boa parte do problema reflita
as mazelas dos órgãos do governo.
Essa é uma equação desconhecida no setor privado, onde o bom
desempenho é o critério fundamental para a remuneração e avanço na carreira.
O governador José Serra se prepara para atrelar os ganhos e a promoção dos funcionários ao atingimento de metas nas unidades em
que trabalham -hospitais, escolas,
delegacias etc. A proposta é louvável, mas, certamente, abrirá um
grande debate quando chegar à Assembléia Legislativa. Há no Brasil
uma tendência de se considerar
"politicamente incorreto" a premiação do bom e a punição do mau.
Precisamos ser mais realistas. A vida é marcada pela seleção. Nos recrutamentos das empresas, entram os melhores. Nas promoções,
sobem os que acumularam mais
méritos.
Vivemos em uma sociedade que
espera o melhor desempenho nas
mesmas condições de trabalho.
Quando este cai, as empresas procuram saber se o problema está na
organização ou nos funcionários,
buscando atualizá-los e reciclá-los
o tempo todo. Mas chega um ponto
em que a substituição é inevitável
ou a promoção é cancelada. Oxalá o
governador Serra consiga implantar esses princípios na administração pública. Ganhará o povo.
antonio.ermirio@antonioermirio.com.br
ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES escreve aos
domingos nesta coluna.
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