São Paulo, domingo, 15 de abril de 2007

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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES

A ineficiência do Estado

DOIS FATOS me intrigam. Segundo pesquisas recentes, o Estado brasileiro é bem menos eficiente que o setor privado. Ao mesmo tempo, a busca por um emprego público cresce a cada dia.
Os dados mostram que a máquina estatal está inchada, investe pouco, desperdiça muito, é extremamente cara (37% do PIB) e garante estabilidade a bons e maus funcionários ("Setor público é menos produtivo", "Estado de S. Paulo", 18/3). Mas será que os jovens buscam deliberadamente as organizações ineficientes?
Penso que essa tendência reflete a situação atual. Em vista do baixo crescimento econômico e da reduzida oferta de empregos, é evidente que eles busquem trabalhar nos órgãos do governo, que empregam mais por apadrinhamento e menos por concurso.
Mas não é só isso. Uma pesquisa realizada pelo professor Nakano, da Fundação Getúlio Vargas, mostra que os ganhos dos servidores públicos são substancialmente mais altos do que a média do setor privado, quando se leva em conta os salários, os benefícios e as generosas aposentadorias e pensões (Yoshiaki Nakano, "Salários no setor público são muito maiores do que no setor privado", "Valor", 21/ 11/2006).
Isso nos leva a concluir que, com honrosas exceções, os funcionários públicos, comparados com os do setor privado, ganham mais e são menos eficientes, admitindo-se até que boa parte do problema reflita as mazelas dos órgãos do governo.
Essa é uma equação desconhecida no setor privado, onde o bom desempenho é o critério fundamental para a remuneração e avanço na carreira.
O governador José Serra se prepara para atrelar os ganhos e a promoção dos funcionários ao atingimento de metas nas unidades em que trabalham -hospitais, escolas, delegacias etc. A proposta é louvável, mas, certamente, abrirá um grande debate quando chegar à Assembléia Legislativa. Há no Brasil uma tendência de se considerar "politicamente incorreto" a premiação do bom e a punição do mau.
Precisamos ser mais realistas. A vida é marcada pela seleção. Nos recrutamentos das empresas, entram os melhores. Nas promoções, sobem os que acumularam mais méritos.
Vivemos em uma sociedade que espera o melhor desempenho nas mesmas condições de trabalho.
Quando este cai, as empresas procuram saber se o problema está na organização ou nos funcionários, buscando atualizá-los e reciclá-los o tempo todo. Mas chega um ponto em que a substituição é inevitável ou a promoção é cancelada. Oxalá o governador Serra consiga implantar esses princípios na administração pública. Ganhará o povo.
antonio.ermirio@antonioermirio.com.br


ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES escreve aos domingos nesta coluna.


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