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Conspiração fiscal
Em vez de ater-se a ajuda limitada, Planalto faz ação eleitoreira, promete R$ 1 bilhão a prefeitos
e dá prêmio à gastança
"ESQUEÇAM o que escrevi na Carta aos
Brasileiros." Eis o
que deveria dizer
hoje o presidente Lula, quase sete anos após divulgar o documento que contribuiu para dar-lhe o primeiro mandato, com a
promessa da responsabilidade
fiscal feita em junho de 2002.
A decisão do Planalto de ceder
à pressão dos prefeitos e torrar
R$ 1 bilhão do Orçamento da
União para compensá-los pela
perda de arrecadação premia a
gastança imprevidente nos anos
de crescimento. Adepto da expansão da máquina pública, Lula
chancela o comportamento perdulário de prefeitos e governadores -inclusive os de oposição. Sinaliza, ainda, que está disposto a
tudo para carrear a gratidão de
prefeitos em favor da ministra-aspirante Dilma Rousseff.
Coerência e lógica, de fato, não
costumam ser o forte do presidente. Ontem, depois de dizer
que a crise faz o governo federal
perder arrecadação e que essa
perda deve atingir a todos, Lula
qualificou a benesse fiscal como
"conquista extraordinária" dos
prefeitos. Não resta dúvida de
que se trata de algo extraordinário anunciar a perda de arrecadação para, em seguida, assumir o
compromisso de manter o mesmo nível de repasse do Fundo de
Participação dos Municípios
(FPM) em 2008.
É razoável dar alguma compensação a municípios, pois parte da perda decorre de incentivos
fiscais concedidos pelo governo
federal, como a redução de IPI
para veículos. Mas tal compensação teria de limitar-se a essa parcela da queda, e não ser indexada
ao repasse do ano anterior.
A distribuição da fatia de
23,5% do IR e do IPI a que os municípios fazem jus, por meio do
FPM, além disso, tem progredido nos últimos anos acima da inflação e do crescimento do PIB.
Foram R$ 51,3 bilhões em 2008,
16% mais que no ano anterior
(R$ 40, 1 bilhões, 12% mais que
em 2006). Deveriam estar com
os cofres bem forrados para enfrentar a tempestade.
Como demonstrou, contudo,
reportagem de Gustavo Patu
nesta Folha, domingo, governos
municipais e estaduais copiam o
padrão federal esbanjador no
aumento de gastos com o funcionalismo -despesas em geral
permanentes- acima da inflação. A União aumentou esse gasto em 26,2% em dois anos, enquanto o IPCA subia 10,6%. Os
Estados avançaram 25,2%, e os
governos das capitais, 26%.
A semelhança dos percentuais
evidencia que se está diante de
uma tendência verdadeiramente
nacional e suprapartidária. O recorde de aumento nos gastos
com pessoal nas capitais (48%)
cabe à prefeita petista de Fortaleza, mas não faltam sócios tucanos e do DEM nesse clube -inclusive o governador paulista e
aspirante à Presidência, José
Serra (PSDB), com acréscimo de
25% na folha de pessoal.
Todos se irmanam na alegação
de que os gastos subiram porque
era necessário reajustar vencimentos achatados por governos
anteriores. Mesmo que o argumento não fosse duvidoso, jamais poderia servir de justificativa para o governo federal adernar ainda mais um equilíbrio fiscal já ameaçado pela crise.
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