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RUY CASTRO
Reflexos da crise
RIO DE JANEIRO - Nesta semana, no norte da França, um homem
de 65 anos abriu fogo a esmo numa
rua cheia de gente, matou dois garotos de 20 e feriu um terceiro. Em
Abéché, no Chade, na semana passada, um membro da Legião Estrangeira -por acaso, brasileiro, de
Santo André (SP)- fuzilou quatro
de uma vez: dois colegas legionários, um militar do Togo e um camponês chadiano.
Também na semana passada, um
jovem de 17 anos matou 15 pessoas
num colégio em Winnenden, na
Alemanha, e depois morreu em
confronto com a polícia. Em Atenas, na Grécia, outro menino, 18
anos, disparou no colégio contra
um rapaz pouco mais velho, ferindo-o, e alvejou dois operários que
estavam por perto, ferindo-os também. Em seguida, matou-se.
Pelos mesmos dias, um atirador
de 45 anos matou um homem e feriu outros três numa cafeteria em
Roterdã, na Holanda. Tudo isso na
Europa. Nos EUA, casos do tipo são
comuns e abundaram nas últimas
semanas -um deles, o dos dois homens armados que invadiram uma
casa perto de Nova Orleans, mataram duas crianças e uma adolescente e feriram outra menina.
A quantidade de pessoas cometendo homicídios em massa tem sido de assustar. Os estudiosos sugerem que seja um reflexo da crise
econômica: o fulano se vê com o seu
presente ou futuro ameaçado, acha
que a vida perdeu o sentido e, afobado, desconta em quem não tem
nada a ver -dizem eles.
No Brasil dos anos 70 e 80, sob a
ditadura, vivíamos em crise política, econômica e social. Era crônico
e de amargar. Mas, confirmando
nossa "índole pacífica", ninguém
saía disparando contra inocentes
pela rua. Ao contrário. Pelo que os
psicanalistas contavam, o que a crise mais provocava no Brasil eram
impotência e ejaculação precoce.
Ou seja, ninguém fuzilava ninguém.
Ou fuzilava depressa demais.
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