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ANTONIO DELFIM NETTO
Giulite, um fidalgo
EU O VEJO, sem medo de exagerar, como um herói nacional, um dos autênticos que se
engajaram nos anos 60 e 70 do século passado na árdua aventura de
abrir mercados para as exportações brasileiras. Especialmente para os produtos da indústria que tinham dificuldade de disputar os
mercados externos.
Não muitas pessoas devem lembrar-se do grau de indigência do
nosso comércio exterior na década
de 60, quando Giulite Coutinho
(nascido na Zona da Mata mineira)
e um pequeno grupo de empresários da Guanabara, de São Paulo e
de Minas criaram a Associação dos
Exportadores Brasileiros (AEB)
para se engajarem no esforço exportador que o governo vinha estimulando fortemente.
Com a taxa de crescimento do
PIB se aproximando dos 10%
anuais, estimava-se que o volume
das exportações precisasse crescer
no mínimo 15% para afastar a inevitável crise de financiamento externo que tantas vezes se repetira
em nossa história. O governo vinha
fazendo a sua parte.
O esforço decisivo, como tinha
de ser, era na cooptação do espírito
animal dos empresários. Eles acreditaram. Confiaram nas políticas
do governo. Arriscaram seus patrimônios. E foram brigar na Europa,
nos EUA, na Ásia, no Oriente árabe
e na África, deslocando a concorrência e realizando seus lucros.
Foram muitos, mas hoje vou reuni-los todos nesta homenagem a
um dos maiores, que nos deixou no
sábado, 4 de abril.
Giulite Coutinho a merece porque foi um empresário competente
e líder combativo, que comandou
batalhas decisivas para firmar a
mentalidade exportadora no setor
produtivo brasileiro. Chefiou a primeira delegação de empresários
brasileiros à República Popular da
China, em 1972, quando ainda não
tínhamos restabelecido as relações
diplomáticas com o regime comunista. Na sequência, presidiu a missão que convidou oficialmente autoridades chinesas a visitarem o
Brasil em 1974, um passo importante para o reatamento pleno das
relações entre os dois países.
Por onde esteve conquistou amigos: era um cultivador de amizades! Nos anos 80, um importante
diplomata nos disse que Giulite era
conhecido no seu país como "o
Marco Pólo brasileiro".
Dedicou-se intensamente à sua
outra paixão, o esporte, tendo presidido a Confederação Brasileira
de Futebol. Não acompanhei de
perto sua trajetória nos meios esportivos, mas guardei a expressão
utilizada por um famoso jogador da
seleção brasileira, nos tempos em
que Giulite comandava a CBF, que
simplificou as coisas dizendo: "Ele
é um fidalgo".
Existem poucos fidalgos hoje em
dia. O meu amigo Giulite foi um
deles.
contatodelfimnetto@uol.com.br
ANTONIO DELFIM NETTO escreve às quartas-feiras nesta coluna.
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