São Paulo, quarta-feira, 15 de abril de 2009

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TENDÊNCIAS/DEBATES

Míssil norte-coreano: motivo de decepção

KYU HYUNG CHO


Trata-se não só de um ato de provocação mas também de um rompimento de acordo com toda a comunidade internacional


A COREIA do Norte, não obstante os repetidos acenos de oposição da comunidade internacional, lançou um míssil de longo alcance no último dia 5. O país argumenta que foi um lançamento de satélite com fins pacíficos. No entanto, seja míssil, seja satélite, o fato é que houve clara violação da resolução nº 1.718 do Conselho de Segurança da ONU.
Trata-se não somente de um ato de provocação à segurança e à paz da península coreana e do nordeste asiático como também de um rompimento de acordo com toda a comunidade internacional. O argumento de Pyongyang é o de que o lançamento de satélite é um direito de exploração espacial pacífica reservado a qualquer país.
Porém, como consequência dos testes nucleares norte-coreanos em outubro de 2006, o país já estava sujeito à aplicação da resolução nº 1.718 do Conselho de Segurança da ONU, cujo teor inclui a "suspensão de todas as atividades relativas a mísseis de longo alcance". Ademais, tecnicamente não há nenhuma diferença entre lançamento de satélites e lançamento de mísseis.
Países aspirantes da paz e da segurança mundiais e especialistas da área militar convergem para a mesma opinião: o último lançamento de míssil da Coreia do Norte revela o evidente objetivo político de mostrar ao mundo seu potencial de lançamentos de longa distância. A comunidade internacional já se manifestou fortemente contra esse último ato norte-coreano.
Para a França, foi "uma provocação de poder de um país que não observa regras internacionais". A Inglaterra afirmou ser "um ato de hostilidade contra a comunidade internacional". Já a União Europeia manifestou reprovação, indicando que a Coreia do Norte "objetiva a aquisição de armas de destruição em massa".
Em especial, o secretário-geral da OEA (Organização dos Estados Americanos), José Miguel Insulza, censurou veementemente a atitude norte-coreana, afirmando que o país "conseguiu ressuscitar o medo da tensão e da insegurança internacional que já estava enterrado no passado".
Por fim, o Conselho de Segurança da ONU, em sua declaração (anteontem), condenou a Coreia do Norte pelo lançamento do míssil, reforçando as sanções impostas ao país. A Coreia do Norte, por sua vez, reagiu com a ruptura de acordos existentes, afirmou que não mais participará das reuniões hexapartites e declarou que vai reativar instalações atômicas.
Ainda, ordenou a saída do país dos especialistas e monitores nucleares da Agência Internacional de Energia Atômica da ONU envolvidos no processo de desmantelamento do reator de Yongbyon, o que é preocupante.
Em face disso, a atenção de países responsáveis e influentes na comunidade internacional se torna ainda mais necessária para exortar Pyongyang a retomar o diálogo e voltar à mesa de discussões a seis [Estados Unidos, Rússia, Japão, China e as duas Coreias].
A Coreia do Norte afirma que a intenção do país era colocar um satélite de comunicações em órbita e que, com esse último lançamento, tal objetivo teria sido alcançado com sucesso. O país argumenta que, com isso, já há transmissões de ondas de rádio, divulgando, inclusive, qual seria a frequência dessa transmissão, pela qual já seriam capazes de captar, por exemplo, transmissão de música.
No entanto, segundo o que confirmaram os Estados Unidos e vários outros países, não há nenhum sinal da existência dessas ondas de transmissão. Por tudo isso, é muito difícil compreender a comemoração pomposa norte-coreana para destacar um satélite que nem sequer existe.
Ameaçar a segurança do nordeste da Ásia e a paz mundial não é uma atitude condizente com um país responsável e membro da comunidade internacional, especialmente num momento em que todos os países, unidos no âmbito do G20, lutam para superar a crise econômica mundial e empenham-se para elevar o bem-estar e a qualidade de vida de seus povos.
A Coreia do Norte, à custa de altíssimas despesas, desenvolve e lança foguetes de longo alcance. É uma atitude que causa decepção no governo da Coreia do Sul e nos demais países da comunidade internacional.
O presidente da Coreia do Sul, Lee Myung-bak, salientou, em seu último discurso público, que, "de todos os países no mundo, a Coreia do Sul é o que mais se preocupa com as vidas e a felicidade do povo norte-coreano" e que "o que protege a Coreia do Norte não são armas nucleares, mas a cooperação com a Coreia do Sul e com a comunidade internacional".
O que se espera da Coreia do Norte é que, como um país responsável e membro da comunidade internacional, retome o diálogo com a Coreia do Sul e se disponha a fazer a abertura e as reformas que aumentem a qualidade de vida de seu povo.

KYU HYUNG CHO, 58, é embaixador da República da Coreia.


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