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As rédeas da inflação
Se aumentar a taxa de juros
em 0,5 ponto percentual na
semana que vem, Banco
Central poderá pôr freio na
deterioração de expectativas
No debate atual sobre a atitude
do Banco Central na condução da
política monetária, diante da rápida piora nas expectativas inflacionárias, a máxima sobre a mulher
de César se aplica bem. Mais que
isso: para além da possibilidade
de estar certo, o BC tem de parecer
certo e provar-se certo.
Antes de mais nada, é preciso
qualificar as críticas recentes ao
banco. De um lado estão alguns
analistas mais ortodoxos, que por
princípio não aceitam que a estratégia de usar um rol de instrumentos mais amplo do que a taxa básica de juros possa ter sucesso.
Essa visão extrema está provavelmente equivocada. Para atacar
os desequilíbrios atuais, que se
concentram no excesso de consumo e em pressões salariais, faz
sentido adotar, em complemento
aos juros, as chamadas medidas
prudenciais: controle seletivo do
crédito e aumento do depósito
compulsório por bancos.
Por sua parte, o BC tem errado
na comunicação, ao propagar
uma visão muito mais otimista
que a da maior parte das análises
(e não só as oriundas do mercado
financeiro). Mesmo após a grande
surpresa inflacionária no primeiro
quadrimestre, o BC sustentou que
as pressões estariam circunscritas
a matérias-primas e logo cessariam. No último relatório de inflação, deu margem a especulações
de que poderia diminuir o ritmo
da alta de juros -ou mesmo interrompê-la- na próxima reunião do
Copom, quarta-feira.
Para o BC, a inflação acumulada em 12 meses chegaria ao teto da
meta (6,5%) só em meados deste
ano, para então recuar para 5,6%
no fim de 2011 e convergir para
4,5% (centro da meta) em junho
de 2012. Enquanto isso, as projeções do setor privado apontam para 6% a 6,5% no final do ano. O risco de o IPCA fechar o ano acima do
teto é, portanto, palpável, assim
como um cenário bem acima do
centro da meta no ano que vem.
A situação é grave, a ponto de
outros objetivos já começarem a
ser sacrificados. No câmbio, o governo deixou claro que abandonou, ao menos por ora, a luta para
conter a valorização do real, na esperança de que o repasse de custos menores nas importações ajude a conter a alta de preços.
Diante de tais desafios, a melhor saída para o BC é dar um passo firme para demonstrar controle: aumentar a taxa básica de juros
em 0,5 ponto percentual na semana que vem. Caso seu cenário otimista esteja correto, isso poderá
frear as altas em breve. Se estiver
errado, e a inflação continuar subindo, uma atitude de acomodação, agora, teria custo mais alto
para sua credibilidade e para o
país, no médio prazo.
Transcorrido um trimestre de
cacofonia na política econômica,
falta ao governo disseminar o tom
correto: o crescimento precisa ser
preservado, decerto, mas com inflação em alta não se pode crescer
de modo sustentável. Logo, é preciso controlar a elevação dos preços, rápido. Essa é a prioridade.
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