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Limites para o sigilo
Em 2009, ainda ministra-chefe
da Casa Civil, Dilma Rousseff enviou ao Congresso projeto de lei
do governo federal que modificava a regra para manutenção de segredo sobre documentos oficiais.
O texto dispunha que os papéis
poderiam ser classificados como
reservados (sigilo pelo prazo de 5
anos), secretos (15 anos) e ultrassecretos (25 anos). No último caso,
admitia-se a renovação sucessiva
do status, o que abria a possibilidade de certos documentos ficarem protegidos por sigilo eterno.
Feita presidente da República,
Dilma Rousseff poderá ser acolhida pela história como aquela que
terá posto fim a essa prática discricionária. A presidente orientou
sua base de apoio no Senado para
manter a legislação tal como aprovada na Câmara, com uma única
renovação na categoria de ultrassecreto. Ou seja, sigilo máximo de
50 anos, prazo incomumente dilatado (nos EUA, são 30 anos).
Os antecessores de Dilma, Luiz
Inácio Lula da Silva e Fernando
Henrique Cardoso, tiveram a
oportunidade de acabar com o sigilo eterno, mas se omitiram.
O princípio da publicidade, formulado pelo filósofo alemão Immanuel Kant ainda no século 18,
constitui um pilar da vida republicana. Só se admite o sigilo como
exceção, ainda que imperativa em
certos casos, como aqueles em
que divulgação traria ameaça à segurança nacional ou à estabilidade econômico-financeira do país.
A nova lei, se aprovada, consagrará a transparência como regra.
Não há como uma nação aprender
com os próprios erros e acertos se
parte deles permanecer subtraída
do escrutínio público para sempre, sabe-se lá por que conveniências de governantes, corporações
ou partidos no poder.
Parece desmesurado, entre outras, o obscuro temor em torno de
documentos sobre a fixação de
fronteiras. O argumento de que
poderiam dar ensejo à reabertura
de contenciosos com países vizinhos soa inverossímil, mais de um
século após a estabilização dos limites do território nacional.
O Senado, ao aprovar o projeto,
dotará o país de uma lei inovadora, que cria obrigações para todos
os níveis de governo (e não só o federal). Entre elas, a de publicar
anualmente quantos e quais papéis foram classificados -um instrumento poderoso de controle da
sociedade sobre os governantes.
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