São Paulo, terça-feira, 15 de maio de 2001

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ELIANE CANTANHÊDE

O apagão

BRASÍLIA - O presidente Fernando Henrique Cardoso reuniu solenemente ontem ministros, o presidente da Itaipu, técnicos, assessores e figurantes em geral para... nada.
Noves fora, o governo não disse nada sobre a crise de energia, nem sobre medidas, nem sobre o preço -ou multa- que o pobre cidadão vai pagar. Estaca zero.
Sendo assim, a frase do dia ficou por conta do próprio FHC ao admitir pública e oficialmente que foi "pego de surpresa" pela crise e pela ameaça de apagão. Como é presidente da República e principal responsável pelas políticas de governo, declarou-se culpado. O culpado número um.
No mais, o ministro do apagão (como Pedro Parente vem sendo oportunamente chamado) deveria ser a estrela da reunião e da entrevista coletiva que se seguiu. Mas tudo o que conseguiu dizer foi: "Não posso falar nada, porque não sei nada".
No final, o ministro José Jorge fez um gesto claríssimo de que o governo não tinha o que falar e de que ele próprio não sabia muito bem o que fazia ali, na reunião e na coletiva.
Agoniado, cheio de tiques, evidentemente pouco à vontade, aproveitou a deixa de "uma última pergunta" para dar um tapa na mesa, tipo despedida: "Então, é isso..." Mas não pôde sentir alívio. Não foi a última pergunta. Só mais uma sem resposta.
No Rio, o outro Pedro, o Malan, entrava no clima de mea culpa. Admitiu que o governo falhou, porque demorou a detectar a crise e a agir. Como se ninguém ainda soubesse.
A reunião de ontem no Planalto começou e acabou mal. FHC faria um pronunciamento na abertura. Depois, ficou para o final. Com o fala-não-fala, enfim descobriu-se o drama: ele não tinha o que dizer.
Parente também não. José Jorge, menos ainda. Uma anti-reunião, cuja grande novidade foi: qualquer novidade, se houver, só na sexta-feira.
É, gente, do jeito que a coisa vai, nem são Pedro, são Jorge e o paraíso inteiro vão apontar uma luz no fim do túnel. O governo está tateando no escuro. E o apagão nem começou.


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