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VINICIUS TORRES FREIRE
A internet dos bandidos e do terror
SÃO PAULO - Marcola do PCC, Fernandinho Beira-Mar e o comendador Arcanjo, líderes de frentes diversas do banditismo, estão presos. Mas
é como se não estivessem no xadrez.
Marcola comanda massacres de
policiais e de servidores públicos e
sua quadrilha de tráfico e assassínios.
Beira-Mar nem endereço fixo nas penitenciárias tem, pois a polícia teme
que, assentado, o bandido seja resgatado ou reorganize suas quadrilhas.
Arcanjo está vivo na pistolagem, no
jogo, no tráfico de dinheiro, na política que financiou. Mas não estão sós
nem organizados. Como assim?
Faz ao menos uma década sabe-se
que o banditismo se conectou em rede. Redes não têm centro nem padrão organizado de difusão. Quanto
mais conexões, mais difícil desbaratá-las. "Crime organizado", organogramas etc. são coisas de má ficção. O
que existe é um mercado de serviços
de facilitação de crimes diversos, nos
quais as quadrilhas se encontram, se
associam e se diversificam.
Em alguns pontos da conexão dessas redes, há políticos, juízes, doleiros,
policiais. Naqueles nós mais grossos
da rede, adotou-se ainda o terrorismo como arma para solapar a ordem. As rebeliões presidiárias de 2001
e de agora; o assassinato de juízes, como Antonio José Machado Dias, em
2003; atentados contra policiais e delegacias; isso tudo é terrorismo.
A rede se desenvolveu em um país
apodrecido pela falta de crescimento,
pela desconexão das policiais, por falta de organização federal contra o
crime, pela Justiça adepta de chicanas. Conectaram-se o narcotráfico, o
contrabando, a adulteração de combustíveis, a lavagem de dinheiro, jogo
ilegal (bicho, bingos e caça-níqueis),
o financiamento criminoso de campanhas políticas e o desvio de dinheiro público. Está tudo documentado
em relatórios de CPIs, em inquéritos
da PF e de polícias honestas.
Enquanto o crime cria sua internet
podre, polícias e governos vivem em
ilhas de ineficiência.
Quando se vai criar um comando
nacional contra esse terror?
@ - vinit@uol.com.br
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