São Paulo, segunda-feira, 15 de maio de 2006

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VINICIUS TORRES FREIRE

A internet dos bandidos e do terror

SÃO PAULO - Marcola do PCC, Fernandinho Beira-Mar e o comendador Arcanjo, líderes de frentes diversas do banditismo, estão presos. Mas é como se não estivessem no xadrez.
Marcola comanda massacres de policiais e de servidores públicos e sua quadrilha de tráfico e assassínios. Beira-Mar nem endereço fixo nas penitenciárias tem, pois a polícia teme que, assentado, o bandido seja resgatado ou reorganize suas quadrilhas. Arcanjo está vivo na pistolagem, no jogo, no tráfico de dinheiro, na política que financiou. Mas não estão sós nem organizados. Como assim?
Faz ao menos uma década sabe-se que o banditismo se conectou em rede. Redes não têm centro nem padrão organizado de difusão. Quanto mais conexões, mais difícil desbaratá-las. "Crime organizado", organogramas etc. são coisas de má ficção. O que existe é um mercado de serviços de facilitação de crimes diversos, nos quais as quadrilhas se encontram, se associam e se diversificam.
Em alguns pontos da conexão dessas redes, há políticos, juízes, doleiros, policiais. Naqueles nós mais grossos da rede, adotou-se ainda o terrorismo como arma para solapar a ordem. As rebeliões presidiárias de 2001 e de agora; o assassinato de juízes, como Antonio José Machado Dias, em 2003; atentados contra policiais e delegacias; isso tudo é terrorismo.
A rede se desenvolveu em um país apodrecido pela falta de crescimento, pela desconexão das policiais, por falta de organização federal contra o crime, pela Justiça adepta de chicanas. Conectaram-se o narcotráfico, o contrabando, a adulteração de combustíveis, a lavagem de dinheiro, jogo ilegal (bicho, bingos e caça-níqueis), o financiamento criminoso de campanhas políticas e o desvio de dinheiro público. Está tudo documentado em relatórios de CPIs, em inquéritos da PF e de polícias honestas.
Enquanto o crime cria sua internet podre, polícias e governos vivem em ilhas de ineficiência.
Quando se vai criar um comando nacional contra esse terror?


@ - vinit@uol.com.br


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