|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
FERNANDO RODRIGUES
Criminalidade e eleição
BRASÍLIA - É cedo para fazer juízo
definitivo, mas o crime pode acabar
sendo o assunto mais recorrente na
eleição de outubro. Tanto a corrupção na política como a criminalidade
mais, vamos dizer, ortodoxa, que foi
exposta no fim de semana com as rebeliões em presídios paulistas.
Os levantes de bandidos devem retirar da agenda política todos os outros debates nos próximos dias ou semanas. A fatalidade será usada contra os tucanos em São Paulo.
O PSDB governa o Estado mais rico
do país há 12 anos. Tempo suficiente
para que tais rebeliões não sejam
mais aceitáveis nem apareçam de
surpresa. A justificativa das autoridades paulistas é quase um escárnio.
Os presos estariam reagindo à linha-dura imposta pelo sistema local de
isolamento de condenados. Se houvesse segregação de fato, a série de
ataques teria sido impossível.
Em 2001, já havia ocorrido algo semelhante. Agora, motins ainda mais
generalizados. Quantos anos são necessários para um determinado grupo político governar um Estado e ter
capacidade de evitar reações orquestradas como as do fim de semana? Os
tucanos terão dificuldade para responder a essa pergunta.
A sorte do PSDB é o fato de Lula ter
pouco a dizer sobre o assunto. Os números do Orçamento da União são
desfavoráveis ao petista. Em 2004, a
administração federal investiu R$
533 milhões na área da segurança
pública. Em 2005, o valor caiu para
R$ 475 milhões. Uma redução de
11%, segundo dados oficiais coletados
pela ONG Contas Abertas, especializada em gastos governamentais.
O mais provável neste ano eleitoral
é os políticos se renderem à tentação
de se acusarem mutuamente pelo flagelo na segurança. Vão aparecer planos tão mirabolantes quanto ineficazes. FHC lançou um pacote com 124
medidas em 20 de junho de 2000 que
custariam cerca de R$ 3 bilhões. A
ação mais revolucionária era iluminar ruas escuras pelo país afora. Se
pelo menos isso tivesse sido executado, já teria sido um grande avanço.
@ - frodriguesbsb@uol.com.br
Texto Anterior: São Paulo - Vinicius Torres Freire: A internet dos bandidos e do terror Próximo Texto: Rio de Janeiro - Carlos Heitor Cony: Justiça a duas mãos Índice
|