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CARLOS HEITOR CONY
Detalhes
RIO DE JANEIRO - Uns pelos outros, aqueles que comentam a atitude de Roberto Carlos pedindo à
Justiça o recolhimento de sua biografia, escrita por um admirador
honesto, comparam o episódio com
a queima de livros na Alemanha de
Hitler e Goebbels.
Apavorados, declaram iminente
uma caça às bruxas impressas, alguns chegam a citar o filme "Farenheit 451", a polícia invadindo casas
em busca de livros, independentemente de seu conteúdo.
Além do exagero, a visão infantil
do caso em si. A apreensão do livro
"Roberto Carlos em Detalhes", a
pedido do cantor, é um fato isolado,
interpretado por um juiz, e não como ação global de um governo ou de
um grupo ideológico ou político interessado na lavagem cerebral da
sociedade.
Os que leram a obra consideram
que a medida judicial foi descabida
e que o livro não contém injúria
nem calúnia ao biografado. Abre-se
então a discussão sobre o limite da
privacidade a que todos temos direito e a fome da sociedade em saber tudo o que acontece em seu
seio. Pessoalmente, não alimento
nenhuma curiosidade em saber se o
cantor tem ou não tem uma perna
mutilada. Dou de barato que há
gente que gosta de coisas assim.
Quem saiu mal do episódio foi o
próprio cantor, embora o prejuízo
seja do autor, da editora e dos interessados em saber tudo da vida de
um artista complicado. A prevalecer o critério da absoluta privacidade, o mercado editorial ficará limitado às biografias autorizadas, que
no fundo são autobiografias escritas por outros.
Herdeiros do biografado sempre
recorrerão à Justiça para descolar
uma reparação qualquer. Se houver
algum descendente de Antônio
Conselheiro ainda em atividade, ele
poderá pedir que se recolham todos
os exemplares de "Os Sertões".
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