São Paulo, quinta-feira, 15 de maio de 2008

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Ambiente civilizado

Mesmo sem Marina Silva no ministério, Lula terá de provar que governo pode compatibilizar ecologia e crescimento econômico

A DEMISSÃO de Marina Silva do Ministério do Meio Ambiente (MMA) representa uma perda para o governo federal. Até os seus muitos adversários, dentro e fora da administração, reconhecem-lhe a firmeza na defesa do patrimônio natural do país e o prestígio internacional que angariou. Os conflitos que marcaram sua gestão, no entanto, mais cedo ou mais tarde conduziriam a um impasse.
Não foram poucos os avanços obtidos por Marina Silva. A militante acreana volta ao Senado com um rol apreciável de realizações: 240 mil km2 de novas unidades de conservação federais, redução de 60% nas taxas de desmatamento ao longo de três anos, criação do Serviço Florestal Brasileiro para promover a silvicultura de baixo impacto nas florestas nacionais -para citar três das medidas estruturantes com que enfrentou o desafio do desmatamento.
No outro prato da balança pesam os vários contenciosos que não pôde ou não soube resolver. A divisão do famigerado Ibama em dois institutos, um para cuidar de licenciamento ambiental, outro da biodiversidade, parece ter criado mais problemas do que resolveu, por exemplo.
O MMA indispôs-se desde cedo com a pasta da Ciência e Tecnologia, por inflexibilidade nas querelas sobre transgênicos e acesso a recursos genéticos, alienando aquele que poderia ser um aliado decisivo na Esplanada. Fustigada sem cessar pelos interesses do agronegócio e do setor hidrelétrico, Marina Silva não teve habilidade nem agilidade para desfazer-se da pecha de inimiga do desenvolvimento. Condição insustentável, num governo cuja peça central de propaganda é o Programa de Aceleração do Crescimento.
Tal será o desafio posto para o novo ministro, Carlos Minc (PT-RJ): fazer cumprir a legislação ambiental com apuro técnico e eficiência administrativa, sem obstrucionismo militante nem pressa encomendada. Já não é fácil alcançar isso no plano de uma secretaria estadual, como a que comandava no Rio de Janeiro. No plano federal, crescem de maneira exponencial os interesses e demandas em jogo, como os que terá de enfrentar para desentalar medidas espinhosas de ordenação, como a regularização fundiária e o zoneamento ecológico-econômico na Amazônia.
De todo modo, Minc recebe uma trilha mais larga para percorrer. Não tanto pela notoriedade dos sucessos e insucessos da antecessora, mas porque a agenda ambiental, uma tendência planetária, se tornou obrigatória para qualquer governo, como valor de civilização e imperativo de racionalidade econômica de longo prazo.


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