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Ambiente civilizado
Mesmo sem Marina Silva no ministério, Lula terá de provar que governo pode compatibilizar ecologia e crescimento econômico
A DEMISSÃO de Marina
Silva do Ministério do
Meio Ambiente
(MMA) representa
uma perda para o governo federal. Até os seus muitos adversários, dentro e fora da administração, reconhecem-lhe a firmeza
na defesa do patrimônio natural
do país e o prestígio internacional que angariou. Os conflitos
que marcaram sua gestão, no entanto, mais cedo ou mais tarde
conduziriam a um impasse.
Não foram poucos os avanços
obtidos por Marina Silva. A militante acreana volta ao Senado
com um rol apreciável de realizações: 240 mil km2 de novas unidades de conservação federais,
redução de 60% nas taxas de
desmatamento ao longo de três
anos, criação do Serviço Florestal Brasileiro para promover a
silvicultura de baixo impacto nas
florestas nacionais -para citar
três das medidas estruturantes
com que enfrentou o desafio do
desmatamento.
No outro prato da balança pesam os vários contenciosos que
não pôde ou não soube resolver.
A divisão do famigerado Ibama
em dois institutos, um para cuidar de licenciamento ambiental,
outro da biodiversidade, parece
ter criado mais problemas do
que resolveu, por exemplo.
O MMA indispôs-se desde cedo com a pasta da Ciência e Tecnologia, por inflexibilidade nas
querelas sobre transgênicos e
acesso a recursos genéticos, alienando aquele que poderia ser
um aliado decisivo na Esplanada. Fustigada sem cessar pelos
interesses do agronegócio e do
setor hidrelétrico, Marina Silva
não teve habilidade nem agilidade para desfazer-se da pecha de
inimiga do desenvolvimento.
Condição insustentável, num
governo cuja peça central de
propaganda é o Programa de
Aceleração do Crescimento.
Tal será o desafio posto para o
novo ministro, Carlos Minc (PT-RJ): fazer cumprir a legislação
ambiental com apuro técnico e
eficiência administrativa, sem
obstrucionismo militante nem
pressa encomendada. Já não é
fácil alcançar isso no plano de
uma secretaria estadual, como a
que comandava no Rio de Janeiro. No plano federal, crescem de
maneira exponencial os interesses e demandas em jogo, como
os que terá de enfrentar para desentalar medidas espinhosas de
ordenação, como a regularização
fundiária e o zoneamento ecológico-econômico na Amazônia.
De todo modo, Minc recebe
uma trilha mais larga para percorrer. Não tanto pela notoriedade dos sucessos e insucessos
da antecessora, mas porque a
agenda ambiental, uma tendência planetária, se tornou obrigatória para qualquer governo, como valor de civilização e imperativo de racionalidade econômica
de longo prazo.
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