|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ELIANE CANTANHÊDE
A praia de Minc é outra
BRASÍLIA - Sai a cabocla Marina
Silva, herdeira de Chico Mendes,
criada descalça na Amazônia, só alfabetizada na adolescência, contaminada por malária e por mercúrio.
Entra Carlos Minc, o ambientalista
do Leblon e de Ipanema. Digamos
que a Amazônia não é exatamente a
praia dele.
Os dois são do PT e respeitados
por ambientalistas de diferentes
cores, mas os contrastes podem, em
vez de diminuir, aumentar as reações e a perplexidade diante da queda de Marina, principalmente fora
do país. Acrescente-se que Minc
tem fama de ser rápido na concessão de licenças ambientais. Para alguns, um grande mérito. Para outros, um risco.
Lula preferia o ex-governador
Jorge Viana por uma questão mais
política do que ambiental. Ele também é do PT do Acre e cresceu sob o
simbologismo de Chico Mendes, o
que ajudaria a neutralizar as reações externas. E, internamente (no
governo, diga-se), seria um alívio
para Dilma (Casa Civil), Stephanes
(Agricultura) e outros mais. Marina
é considerada "purista", Viana já
passou por um governo e uma prefeitura e é mais "realista" -ou seja,
mais flexível no embate entre ambiente e desenvolvimento.
Mas, desta vez, a decantada habilidade de encantador de serpentes
não funcionou, e Lula não convenceu Viana a aceitar a cadeira de Marina. Aliás, nem se esforçou muito,
porque o ex-governador já chegou
ao Planalto disposto a agradecer
muito e a declinar do convite.
Com Viana fora, Lula agora tem
de convencer gregos e troianos, não
só acreanos, de que a prioridade de
Minc, dele próprio e do Brasil é a
Amazônia -que é o que interessa
ao mundo. Tem, também, de tirar o
PAS (Plano Amazônia Sustentável)
de Mangabeira Unger e devolver ao
Meio Ambiente, de onde nunca deveria ter saído. Para isso, Lula precisa admitir que errou. Ou que o seu
"problema" não era só o endereço
do ministério; tinha cara e nome:
Marina Silva.
elianec@uol.com.br
Texto Anterior: Lima - Clóvis Rossi: O (quase) espelho peruano Próximo Texto: Rio de Janeiro - Carlos Heitor Cony: Tábua de logaritmos Índice
|