|
Próximo Texto | Índice
Editoriais
editoriais@uol.com.br
Prudência necessária
Anúncio de corte de despesas é um sinal de sensatez do governo, que enveredava pelo terreno do descontrole fiscal
DEPOIS DE UMA fase em
que a adoção de medidas para enfrentar a
crise econômica internacional serviu de licença para
gastos descontrolados, o governo
federal demonstra, enfim, estar
preocupado com o desequilíbrio
fiscal e as evidências de superaquecimento da economia.
A Fazenda anunciou um corte
adicional de R$ 10 bilhões em
despesas de custeio, que poderá
ajudar a União a superar a meta
de 3,3% do PIB para o superavit
primário -a economia do setor
público com vistas ao pagamento
dos juros da dívida.
O novo congelamento de gastos soma-se aos R$ 21,8 bilhões
anunciados em março, perfazendo um total de R$ 31,8 bilhões,
cerca de 1% do PIB.
O valor é quase o mesmo dos
investimentos vinculados ao
Programa de Aceleração do
Crescimento, que podem ser
abatidos do cálculo do superavit.
Se cumprir o prometido, o governo poderá agora alcançar o objetivo fiscal de maneira mais convincente, sem precisar recorrer
ao desconto dos valores do PAC.
O anúncio veio em boa hora.
Os cortes trazem uma salutar dose de sensatez para um ambiente
de gestão das finanças públicas
que parecia caminhar para o terreno da irresponsabilidade.
Desde sempre inclinado a aumentar despesas, o governo Lula
nos últimos tempos ultrapassou
os limites. Uma série de subterfúgios foi utilizada para fechar as
contas de 2009, facilitar gastos e
driblar a contabilidade oficial.
O mais "criativo" -e preocupante- deles foi a transferência
de R$ 180 bilhões do Tesouro
Nacional para o BNDES. Na
mesma linha, editou-se medida
provisória que permite o uso de
recursos do chamado fundo soberano para capitalizar estatais,
sem afetar o superavit primário.
O quadro tornou-se mais arriscado com a eclosão da crise europeia e com os sinais de que a retomada do crescimento da economia brasileira vinha de fato
ocorrendo em ritmo muito forte,
o que já levara o Banco Central a
iniciar um processo de elevação
da taxa básica de juros.
Embora os cortes previstos
não sejam suficientes para alterar a direção restritiva da política
monetária, podem representar
um alívio. Os juros certamente
continuarão em alta, mas sem o
esforço fiscal seriam maiores as
chances de que atingissem um
patamar mais elevado -e mais
nocivo para a economia.
Quanto à Europa, a montagem,
às pressas, de um pacote de socorro de 750 bilhões (cerca de
R$ 1,7 trilhão) não deixou dúvidas sobre a gravidade dos desequilíbrios fiscais em muitas economias do continente.
As dificuldades da Grécia lembram, aliás, momentos sombrios
já enfrentados pelo Brasil em
passado não muito distante.
Mesmo fora do epicentro da crise, o governo brasileiro não poderia comportar-se como se nada tivesse acontecido.
Também são positivas, neste
cenário, as indicações de que a
Presidência dispõe-se a vetar os
descalabros previdenciários
aprovados pelo Congresso. A hora, de fato, exige prudência.
Próximo Texto: Editoriais: Plano modificado
Índice
|