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Plano modificado
SÃO BEM-VINDAS as modificações a que foi submetido o
3º Programa Nacional de
Direitos Humanos, publicado
em nova versão na última quinta-feira. Alvo de múltiplas pressões, o governo federal se viu
obrigado a suprimir iniciativas
controversas abrigadas no documento, como a defesa da descriminalização do aborto e o veto à
ostentação de símbolos religiosos em locais públicos.
Ao publicar o decreto original,
em dezembro de 2009, a Secretaria Especial dos Direitos Humanos incorporou, em suas quase 200 páginas, impressionante
espectro de questões, planos e
diagnósticos. Em contraste com
tal amplitude temática, o plano
verbalizava apenas opiniões de
um grupo ideológico de esquerda
abrigado no governo Lula.
O documento, que deveria fazer avançar o respeito aos direitos fundamentais no Brasil, tornou-se plataforma de críticas ao
agronegócio, de ameaças de controle sobre órgãos de imprensa e
de opiniões enviesadas acerca da
história recente do país. Com isso, tornava impossível uma discussão mais serena sobre os temas que abordava.
Embora ideias ali contidas fossem defensáveis, muitas não
passavam de compensação retórica a representantes petistas
que o próprio governo havia desagradado com seu conhecido
pragmatismo. Ao reuni-las indistintamente numa única carta de
intenções, o decreto atropelou
trâmites democráticos e avançou sobre a competência de várias áreas do governo, do Legislativo e do Judiciário.
Modificado agora, o programa
de direitos humanos cumpre
uma etapa conciliatória que deveria ter ocorrido no processo
original de elaboração. Ficam suprimidos muitos dos assuntos
sobre os quais ainda não há consenso na sociedade. Que retornem ao debate público, se for o
caso, por seus próprios méritos.
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