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FERNANDO DE BARROS E SILVA
Mandela no liquidificador
SÃO PAULO - Lula comparou Dilma Rousseff a Nelson Mandela no
programa de TV do PT, anteontem
à noite. É um disparate. A comparação entre o próprio Lula e Jesus
Cristo, de que ele tanto gosta, soa
menos extravagante. Ou, para falar
em lulês: Dentinho pode fazer um
gol extraordinário, um gol de Pelé.
Continuará sendo Dentinho...
Mandela e Dilma participaram
nos anos 60 de grupos adeptos da
luta armada em seus respectivos
países -num caso contra o governo
racista, no outro contra a ditadura.
Ambos foram presos políticos. Fim
das "coincidências". Mandela já era
uma liderança contra o apartheid
na África do Sul quando foi detido.
Permaneceu quase três décadas na
cadeia e saiu de lá para se consagrar
como um dos mitos do século 20.
Ou, como disse Lula na TV: "O
tempo passou e o que aconteceu?
Mandela virou um dos maiores
símbolos da paz e da união no mundo". E, no caso de Dilma, o tempo
passou e o que aconteceu? Nada.
Pelo menos nada que merecesse registro histórico até que Lula a retirasse do anonimato para inventá-la
como candidata. Tudo isso a partir
de 2006, depois que os nomes até
então cotados no PT foram inviabilizados numa nuvem de escândalos.
Aproximar as biografias de Dilma
e Mandela é mais ou menos como
colocar no site oficial da candidata a
foto de Norma Bengell durante a
Passeata dos Cem Mil. A imagem
induz quem olha a achar que aquela
é a petista, e não a atriz. Inventa-se,
assim, uma Dilma fictícia.
Disso Paulo Maluf entende. Sempre que é cobrado sobre Celso Pitta,
ele jura que também se decepcionou muito com o afilhado. Mas faz
questão de repetir o conselho que
teria dado quando escolheu um sucessor negro: "Falei nos olhos do
Pitta: se você for um bom prefeito,
vai se eleger governador de São
Paulo. Se for governador, vai se tornar o Nelson Mandela brasileiro".
Lula, é claro, não é Paulo Maluf. E
Dilma, é óbvio, é bem diferente de
Celso Pitta. E o leitor já deve estar
perguntando o que é que Nelson
Mandela tem a ver com tudo isso.
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