|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
TENDÊNCIAS/DEBATES
O Minhocão deve ser demolido?
NÃO
Revitalização é a melhor estratégia
ISSAO MINAMI
O TERMO "meio urbano", atualmente, talvez expresse mais
corretamente do que "cidade"
a condição de homem contemporâneo inserido na cultura global.
As grandes cidades são como símbolos e sínteses dessa condição: em
qualquer lugar, em qualquer circunstância, representam imageticamente
ícones (símbolos e signos) que são
atributos do meio urbano.
A cidade contemporânea é um palco em que o olhar não contempla só
detalhes, sendo importantes as relações entre a arquitetura e seus arredores, impondo regra de sustentabilidade, pós-uso politicamente correto.
O Minhocão, ou o elevado Costa e
Silva, encarna uma proposta urbana
que surge em 1969 como a maior via
elevada da América Latina, com fortes pretextos e argumentações desenvolvimentistas, que se baseavam na
perspectiva de descongestionar o
centro de São Paulo na direção leste-oeste com um conjunto de vias expressas construídas na época.
Na região leste, foram construídas
vias na superfície, mas, na região oeste, na porção mais urbanizada, a solução em elevado ganhou força por menor custo e interferências urbanas.
A decadência e a deterioração do
entorno é motivo de preocupação, e
soluções para tanto são necessárias.
De fato, empreender esforços no
sentido de reverter o processo, transformando o local por revalorização,
controle da poluição ambiental e revitalização urbana.
O que se coloca é a necessária
transformação do Minhocão, e cabe
perguntar: revitalizar ou demolir?
A resposta a essa questão passa por
uma argumentação rica e estratégica,
com uma reflexão que afaste a ideia
imediatista onde se implemente a requalificação urbana.
Hoje, o elevado, com seus 3,4 km de
extensão, é via de circulação com fluxo diário médio de 70 mil veículos.
Retirá-lo significaria uma maior
degradação do centro, em vista dos
congestionamentos que provocaria.
A sua presença molesta cerca de
140 edifícios do entorno, o que, na
verdade, decorre da má condição técnica do elevado, resolvível em um horizonte muito próximo.
Sua demolição provocaria transtornos mais violentos no entorno e seria
cara e demorada, colocando em risco
os velhos edifícios lindeiros.
Ademais, o elevado já está incorporado ao cotidiano da população mais
carente da região, e a sua falta exigiria
a construção de uma alternativa
emergencial, um túnel sob o traçado
atual, absolutamente inviável por
conta das interferências, especialmente as estações e a linha de metrô.
Sugerimos a transformação do elevado em algo como uma parceria público-privada de conexão viária, que
chamaremos de ecoelevado.
Essa proposta surgiu em 2006, no
concurso público de requalificação do
Minhocão, elaborada por equipe de
arquitetos e engenheiros, a maioria
da USP, composta por Bruno Padovano, Issao Minami, Patrícia Bertac, Silvio Padilha e Roberto Righi, e segue,
em linha gerais, o mesmo princípio do
da equipe vencedora do concurso,
coordenada por José Alves e
Juliana Corradini.
O ecoelevado poderá ter a instalação de uma estrutura metálica de
apoio para abafadores de ruído e de
equipamentos para paisagismo e comunicação visual, garantindo imediata qualidade ambiental do entorno.
Em certa ocasião, percorri Tóquio,
no Japão, vindo de Shizuoka em direção ao aeroporto de Narita, onde uma
solução semelhante de abafadores vegetais garantia a qualidade ambiental
em áreas mais densamente povoadas.
Uma estrutura de bulevares poderá
garantir área de lazer para pedestres e
ciclistas, com áreas verdes ligadas.
Finalmente ,a fase de reurbanização do entorno próximo ao elevado,
transformando-as em praças, logradouros e áreas comerciais, com substituição de pisos, iluminação, sinalização e outras manutenções.
Na realidade, essas propostas são
baseadas na não saturação atual da
demanda de circulação viária, o que
não justifica a construção de alternativas de maior capacidade, pois as
tendências de estímulo ao transporte
de massa devem frear tal crescimento. Portanto, é melhor revitalizar
o Minhocão.
ISSAO MINAMI , mestre e doutor em arquitetura e urbanismo, é arquiteto, urbanista, designer e professor da FAU-USP, onde é coordenador técnico do Laboratório de
Imagem da Comunicação Visual Urbana.
Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. debates@uol.com.br
Texto Anterior: TENDÊNCIAS/DEBATES Lúcio Gomes Machado: Elevado é câncer urbano a ser extirpado Próximo Texto: Painel do Leitor Índice
|