São Paulo, terça-feira, 15 de junho de 2004

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ELIANE CANTANHÊDE

O espião

BRASÍLIA - Fui das muralhas da China às praias de Maceió e estava tudo ótimo nas férias. Só não esperava que Brasília andasse tão divertida. Até espiões pululam no Planalto, a preço de banana.
As manchetes dos jornais, a bem da verdade, estão iguaizinhas às de um mês atrás. Senão, vejamos: o Exército no combate à violência urbana e às voltas com roubos de arma nos quartéis; o acordo da União Européia com o Mercosul, sempre na bica de sair; o governo e os aliados trocando sopapos no Congresso por causa do salário mínimo de R$ 260.
O que não pára de surpreender são os bastidores do Planalto, enquanto Lula e Marisa dançam forró no Torto. A última é a Abin (a agência de inteligência do governo) espionar quem espiona. Ao que parece, todos espionam todos. No meio, um ou dois jornalistas que assessoram ministros são suspeitos de passar informações sigilosas para tucanos por R$ 2.500 mensais num país em que corrupção se mede em milhões.
Governo que é governo convive com espionagem e não é de hoje. Nem os presidentes militares se livraram disso, e a frase do general Golbery, o bruxo de Geisel, continua fresquinha: "Criei um monstro". Criador e criatura. O "monstro" era o SNI, que muda de nome, de roupa e de quadros, mas está sempre pairando por aí. Agora não poderia ser diferente.
Mas daí a alguém do governo vislumbrar um complô extraterrestre em normais e inevitáveis vazamentos sobre reuniões, disputas de poder e idiossincrasias palacianas é típica fantasia conspiratória da velha esquerda. Façam-me o favor...
O que há -além dos desvios de sempre da Abin, como de seus antecessores- é uma brigalhada infernal no palácio de Lula. José Dirceu, sempre ele, está no centro de tudo. As fofocas começam nele, espalham-se em ondas ao redor dele e voltam-se contra ele. Que se defende procurando chifre em cabeça de cavalo e tucanice em petista de carteirinha ou de coração. É assim que Brasília está. De morrer de rir ou de chorar, dependendo do lado. Férias, pra quê férias?


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