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CARLOS HEITOR CONY
Fusão e confusão
RIO DE JANEIRO - Antes tarde do que nunca. Voltou-se a falar sobre a desfusão do Estado do Rio com o antigo
Estado da Guanabara, unidade da
federação que foi Município Neutro e
Distrito Federal durante séculos. Física, moral e economicamente, o Rio
sempre foi uma típica cidade-Estado,
o que não a impediu de ser capital da
República e sede de um império que
tinha colônias espalhadas por vários
continentes.
Não se trata de bairrismo do cronista, que nasceu carioca e se considera
fluminense apenas no futebol, tricolor de coração, do time tantas vezes
campeão.
Quando Brasília foi inaugurada, o
desejo de todos nós, brasileiros, é que
fosse cumprido o dispositivo que criava um novo Estado, com o nome óbvio de Guanabara. Assim foi feito e
tivemos dois excelentes governos
aqui, o de Carlos Lacerda e o de Negrão de Lima. A cidade prosperou,
nunca foi tão maravilhosa.
O diabo apareceu na tradicional
forma do despeito político. O Brasil
vivia sob regime militar e a Guanabara era a unidade da Federação que
sempre votava contra os apetites da
ditadura vigente. Numa das eleições
dos anos 70, o Rio foi único Estado
que teve direito a ter um governador
do partido da oposição, o MDB. O
resto todo era Arena.
Foi para acabar com essa exceção
que o regime militar decidiu fundir
os dois Estados, na suposição de que
assim obteria a unanimidade política e administrativa do país sem
aquela pedrinha incômoda na chuteira do regime totalitário.
Foram feitas previsões mirabolantes sobre o futuro econômico e social
do novo Estado do Rio. Os prognósticos falharam, o Estado do Rio ficou
mais pobre e a cidade do Rio decaiu.
Armou-se, com a fusão, uma confusão que até hoje persiste, com problemas no Judiciário, nas polícias Civil e Militar, no sistema de educação e de
saúde.
Com o petróleo da bacia de Campos, os fluminenses poderão criar um
grande Estado. E os cariocas terão de
volta a sua cidade.
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