São Paulo, quinta-feira, 15 de junho de 2006

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TENDÊNCIAS/DEBATES

Dentre tantos, um só tema

HORACIO LAFER PIVA

BRASILEIROS PRENDEM-SE com grande naturalidade à recorrência do curto-prazo e à presunção de que qualquer assunto é vital, e em todos eles, são gabaritados especialistas. Tudo, contudo e por isso, termina em palanque, em festa, em platitudes e em promessas sem compromissos, algo tão divertido quanto perigoso.


A educação é a questão mais transversal em uma sociedade que se pretenda civilizada, democrática e próspera


Não há que se desconsiderar a importância de um tanto desses tempos e temas, mas sua má alocação na agenda de prioridades inverte conceitos e, confortavelmente, isenta a sociedade de responsabilidades.
Por outro lado, está parecendo que forma-se um consenso em torno de uma grande chaga nacional, a educação, e isso deve ser comemorado.
Educação é começo, meio e fim. É a questão mais transversal em uma sociedade que se pretenda civilizada, democrática e próspera. Procura-se desenvolvimento, que é crescimento com justiça social? Sem ela, nada feito. Controle de natalidade é uma questão referencial? Só educando a população. O Brasil aceitou o desafio da inserção internacional? Competição pressupõe educação. O crime assusta, a saúde anda patinando, a Previdência está matando as contas públicas, o desemprego grassa? Só a educação os enfrenta.
O Brasil ainda paga alguns preços por sua jovem democracia e a deficiência de capital humano, um desperdício desse país tão rico em criatividade e diversidade. Além disso, a ineficiência no uso dos seus recursos compromete seriamente o futuro.
No caso da educação, esqueçam o quanto isso nos causou de prejuízo até agora. O que virá à frente poderá ser bem pior, na medida em que nosso diferencial em relação a outros países cresce e, não obstante nossa pretensa pseudo-alfabetização universal, gera-se mais concentração de renda, mais dispersão pelo aumento de problemas e menos foco no longo prazo, pelos "incêndios" inevitáveis de quem relaxa no essencial.
É extraordinário viver esse momento em que a vocação libertária da internet e as tecnologias emergentes podem ajudar a chegar, e de várias maneiras e dimensões, onde nem sequer se sonharia anos atrás. Mas a pedagogia demanda assistência presencial, com bons mestres, bem formados e de visão generalista, generosa e culturalmente bem embasada. Sem boas universidades, a formação de novos professores é deficiente, o que cobra um alto preço, do ensino básico ao superior, colocando-nos num círculo vicioso e perverso. Isso tudo tem a ver com dinheiro, sim, mas na condição de instrumento, e não fim, de maneira que cabe relativizar na discussão sua importância.
O lado positivo é que há algum movimento e, por mais replicado e caótico, ele recoloca o assunto na agenda dos formadores de opinião e da inteligência da Academia e do Congresso.
Empresários criam programas de responsabilidade social com destinação prioritária, o ministro Fernando Haddad (Educação) procura um caminho alternativo que drible o cipoal gigantesco e burocrático que impede avanços, o ex-ministro Paulo Renato organiza, com a Fundação Leman e Jacobs, um encontro denso no fim deste mês, e o Instituto DNA Brasil reuniu-se no último fim de semana na Bahia, com o apoio da Fundação Kellog, para uma discussão honesta, comparativa e unificadora, exatamente a respeito desse tema. Foi o primeiro de seus "Programas Parlamentares", que reunirão regularmente acadêmicos, empresários e parlamentares que se ocupam da causa.
Criado há dois anos com o objetivo de buscar uma alternativa às centenas de "think tanks" que, por sua composição sempre uniforme, não têm dado respostas às questões que se propõem enfrentar, o DNA Brasil é uma organização multidisciplinar, capaz de extrair inteligência coletiva de grupos plurais.
Suas conclusões, que partiram de um provocador "educação não serve para nada, sem que...", de João Sayad, serão divulgadas em breve no próprio Congresso Nacional, retrabalhadas, utilizadas pela sociedade, aí incluídos os poucos, mas patrióticos e competentes parlamentares que não se esquivaram, mesmo em época hostil de campanhas, a nosso convite, e serão também uma das bases dos encontros com brasileiros notáveis, que fazemos nos meses de novembro.
E por quê? Porque educar é o lógico, porque não se deseja que o Brasil passe da classificação de emergente para a de submergente, porque podemos sair do posto de coadjuvantes para o de protagonistas, porque o tempo político precisa reduzir seu atraso em relação ao tempo econômico e social, porque fazemos a nossa parte e pedimos que o leitor faça a sua e porque, pura e simplesmente, estamos por aqui ainda a merecer esperança, felicidade e futuro.
HORACIO LAFER PIVA , 49, é empresário, presidente do Instituto DNA Brasil e ex-presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo)


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