São Paulo, quinta-feira, 15 de junho de 2006 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES Em defesa da avicultura brasileira
ARIEL ANTONIO MENDES
Fatores como clima favorável, disponibilidade de grãos, mão-de-obra abundante e de qualidade, empresários ousados e técnicos competentes tornaram o setor avícola brasileiro um dos mais competitivos do planeta. O sistema de integração praticado no Brasil não só é modelo para o mundo como também forte gerador de emprego e renda no meio rural. Ele permite que o produtor viabilize a pequena propriedade, por intermédio da criação de frangos em parceria com empresas integradoras. O sistema deu tão certo que foi reproduzido na produção de diversos outros produtos agrícolas. Entretanto, corremos o risco de perder essa posição de liderança de uma hora para a outra se algumas ações não forem adotadas imediatamente. Não estamos falando de empréstimos subsidiados, isenção de impostos ou qualquer ajuda dessa natureza. Pedimos, apenas, que o governo invista mais em defesa sanitária animal a fim de manter o país livre de doenças que comprometem o comércio internacional, como a doença de Newcastle e a influenza aviária. Se nada for feito, a indesejável ocorrência de surtos de influenza aviária terá conseqüências dramáticas para o Brasil. O país ficará impedido de exportar carne de frango "in natura". Perderemos mercados internacionais, haverá quebra de empresas e redução significativa de postos de trabalho. De uma hora para outra, os produtores rurais ficarão sem sua principal fonte de renda e toda a cadeia será abalada, desde os produtores de milho e soja até os fabricantes de equipamentos e de produtos veterinários. Mas existe uma forma de evitar esse desastre: adotar a regionalização. Desde 2002, quando ocorreu um surto de influenza aviária no Chile, o setor privado, juntamente com o Ministério da Agricultura, vem adotando providências para evitar a entrada do vírus no Brasil e, se necessário, eliminar rapidamente eventuais focos. Tais ações se acentuaram a partir do fim de 2003, quando do início do surto de vírus H5N1 na Ásia. Dentre as medidas destacam-se o treinamento de pessoal, a modernização dos laboratórios para diagnóstico, a criação de programas de monitoria em aves comerciais e migratórias, a colocação de detectores de matéria orgânica nos aeroportos, a reativação de incineradores nos portos e aeroportos, a proibição de visitas de estrangeiros às granjas e o reforço na biosseguridade das granjas. Como não existe risco zero, o setor de produção propôs ao governo, em 2004, a implementação de um programa de regionalização sanitária da avicultura, a exemplo do existente para a febre aftosa. Dadas as dimensões continentais do Brasil, além de preservar a exportação das regiões não afetadas por um eventual surto, o programa facilitaria a erradicação de focos no país. Depois de dois anos de discussão, finalmente foi aprovado e publicado, no início de abril, o chamado Plano Nacional de Prevenção da Influenza Aviária e de Prevenção e Controle da Doença de Newcastle. Nele, são detalhadas ações de prevenção e estabelecidas regras rígidas para o trânsito interestadual de aves vivas e produtos avícolas. O plano é de aplicação voluntária pelos Estados. Devem formalizar a adesão a ele, no início de junho, os Estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Distrito Federal, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Com isso, 90% da avicultura brasileira estará protegida. Os demais Estados deverão aderir nos próximos anos, à medida que forem se estruturando para atingir os níveis exigidos pelo Ministério da Agricultura. Para que o plano saia do papel, porém, é necessário que haja um repasse extra de recursos ao Ministério da Agricultura. O governo federal precisa ter em mente que manter a sanidade dos nossos plantéis é prioridade e evita tragédias como as causadas recentemente pela febre aftosa. Sanidade animal é um patrimônio do país tão ou mais importante que as reservas de minérios e petróleo. Preservá-la significa garantir o futuro de nossos filhos e netos. ARIEL ANTONIO MENDES , professor titular da Unesp, vice-presidente técnico científico da União Brasileira de Avicultura, Coordenador do Comitê Técnico Científico da Associação Latino-americana de Avicultura e representante do Brasil no Comitê Interamericano de Sanidade Avícola da OIE. Texto Anterior: TENDÊNCIAS/DEBATES Horácio Lafer Piva: Dentre tantos, um só tema Próximo Texto: Painel do leitor Índice |
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