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A oferta que falta
Resultado do PIB ficou algo aquém do esperado; infra-estrutura é o fator que mais constrange o crescimento econômico
OS RESULTADOS DO PIB
brasileiro no primeiro
trimestre deste ano,
divulgados anteontem
pelo IBGE, revelaram um crescimento menor do que esperava a
maioria dos analistas.
Descontadas as oscilações associadas às características de cada época do ano, a expansão da
produção, sobre o trimestre final
de 2006, foi de 0,8%. Isso corresponde a um ritmo anualizado de
modestos 3,2%, claramente inferior ao que vem sendo observado
na grande maioria das economias do globo.
Verificando-se a composição
desse crescimento, constatam-se alguns aspectos positivos e outros problemáticos. Dentre os
primeiros destaca-se a continuidade do avanço do investimento
produtivo, em particular da
aquisição de máquinas e equipamentos pelas empresas.
Esse elemento confirma que
continua em curso um processo
de ampliação da capacidade de
oferta de bens em variados setores da economia. Somando-se a
isso a expansão ainda muito forte da entrada de produtos importados no mercado brasileiro, parece continuar bastante diminuto o risco de que venham a se disseminar situações em que faltem
produtos para atender à demanda, ensejando pressões indesejadas sobre os preços.
Outro aspecto positivo é o fato
de que a demanda de consumo
das famílias manteve-se em alta,
sobre igual período do ano anterior, pelo 14º trimestre consecutivo -evento corriqueiro numa
economia sadia, mas que não se
verificava no Brasil desde os
anos setenta.
É certo que a expansão do consumo foi menor do que no trimestre final do ano passado (e
não ter previsto isso foi o principal fator que levou grande parte
dos analistas a superestimar o
crescimento do PIB como um todo nos primeiros meses de
2007). Mas essa nuance tem um
lado favorável: também ela sugere que o risco de surgimento de
pressões sobre os preços não
vem se agravando.
Além desses indícios indiretos,
os dados do PIB trouxeram ainda
evidências diretas tranqüilizadoras quanto à trajetória e às
perspectivas da inflação.
A nova metodologia do IBGE
permite inferir a inflação estimada para calcular a variação do
PIB como um todo e de cada um
de seus componentes. De acordo
com esse cálculo, dos meses finais de 2006 para os iniciais de
2007 o ritmo de alta dos preços
dos itens que compõem o consumo das famílias diminuiu de potencialmente inquietantes 5,1%
ao ano para bem mais cômodos
2,8% ao ano.
Portanto, o crescimento da
economia brasileira não se encontra limitado por uma demanda interna claudicante (em contraste com que se observou até
2005). Tampouco a disponibilidade de oferta de bens se revela
preocupante.
Mas restam sérias e justificadas dúvidas quanto à capacidade
da combalida oferta de transporte, logística e energia de dar suporte à continuidade do crescimento. O gargalo mais grave reside, hoje, na oferta insuficiente
de infra-estrutura.
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