São Paulo, sexta-feira, 15 de junho de 2007

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A oferta que falta

Resultado do PIB ficou algo aquém do esperado; infra-estrutura é o fator que mais constrange o crescimento econômico

OS RESULTADOS DO PIB brasileiro no primeiro trimestre deste ano, divulgados anteontem pelo IBGE, revelaram um crescimento menor do que esperava a maioria dos analistas.
Descontadas as oscilações associadas às características de cada época do ano, a expansão da produção, sobre o trimestre final de 2006, foi de 0,8%. Isso corresponde a um ritmo anualizado de modestos 3,2%, claramente inferior ao que vem sendo observado na grande maioria das economias do globo.
Verificando-se a composição desse crescimento, constatam-se alguns aspectos positivos e outros problemáticos. Dentre os primeiros destaca-se a continuidade do avanço do investimento produtivo, em particular da aquisição de máquinas e equipamentos pelas empresas.
Esse elemento confirma que continua em curso um processo de ampliação da capacidade de oferta de bens em variados setores da economia. Somando-se a isso a expansão ainda muito forte da entrada de produtos importados no mercado brasileiro, parece continuar bastante diminuto o risco de que venham a se disseminar situações em que faltem produtos para atender à demanda, ensejando pressões indesejadas sobre os preços.
Outro aspecto positivo é o fato de que a demanda de consumo das famílias manteve-se em alta, sobre igual período do ano anterior, pelo 14º trimestre consecutivo -evento corriqueiro numa economia sadia, mas que não se verificava no Brasil desde os anos setenta.
É certo que a expansão do consumo foi menor do que no trimestre final do ano passado (e não ter previsto isso foi o principal fator que levou grande parte dos analistas a superestimar o crescimento do PIB como um todo nos primeiros meses de 2007). Mas essa nuance tem um lado favorável: também ela sugere que o risco de surgimento de pressões sobre os preços não vem se agravando.
Além desses indícios indiretos, os dados do PIB trouxeram ainda evidências diretas tranqüilizadoras quanto à trajetória e às perspectivas da inflação.
A nova metodologia do IBGE permite inferir a inflação estimada para calcular a variação do PIB como um todo e de cada um de seus componentes. De acordo com esse cálculo, dos meses finais de 2006 para os iniciais de 2007 o ritmo de alta dos preços dos itens que compõem o consumo das famílias diminuiu de potencialmente inquietantes 5,1% ao ano para bem mais cômodos 2,8% ao ano.
Portanto, o crescimento da economia brasileira não se encontra limitado por uma demanda interna claudicante (em contraste com que se observou até 2005). Tampouco a disponibilidade de oferta de bens se revela preocupante.
Mas restam sérias e justificadas dúvidas quanto à capacidade da combalida oferta de transporte, logística e energia de dar suporte à continuidade do crescimento. O gargalo mais grave reside, hoje, na oferta insuficiente de infra-estrutura.


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