São Paulo, sexta-feira, 15 de junho de 2007

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NELSON MOTTA

As aparências não enganam

RIO DE JANEIRO - Quando Rita Lee disse que "roqueiro brasileiro sempre teve cara de bandido", foi apenas uma liberdade poética. Se pobres garotos rebeldes e metidos a músicos têm cara de bandido, o que dizer da galeria de horrores de políticos, juízes e lobistas que ilustram o noticiário? É de dar medo.
Não sei se são tão feios porque fazem tanta coisa feia ou vice-versa. Mas dificilmente se encontrarão pintas mais brabas do que, visualizem, Hildebrando, Severino, Jader, Waldomiro, Poletto, Lorenzetti, Freud Godoy, o juiz Ernesto Dória e seus óculos escuros. A lista é interminável e inesquecível, agora enriquecida pelo apavorante e auto-explicativo Dario Morelli. Não é preciso perguntar nada: tá na cara. Nenhum bandido faria feio perto deles.
Feiúra não é crime ou pecado, nem beleza redime ou é mérito pessoal, como provam Collor e Luiz Estevão. Os bonitinhos, mas ordinários, são exceções. O normal são caras como PC Farias e os sinistros irmãos carecas, o bexiguento João Alves e os anões do Orçamento, as carrancas de mensaleiros e sanguessugas. É vasta a nossa cultura visual da feiúra, estética e ética. Mas a coisa está ainda mais feia: diante dessa turma, Turcão e o Capitão Guimarães até exibem uma aparência senhorial, e Marcola parece um professor.
A feiúra lhes acompanha pela vida através de espelhos implacáveis, inferniza seus dias e estimula suas invejas e rancores, os faz gastar seus milhões na ilusão de comprar beleza e afeto, pobres diabos que se sentem tão ricos e poderosos. E tão irremediavelmente feios.
Diante dessa desgraça, os mais caros e competentes advogados são inúteis. Seus clientes podem desfrutar de suas impunidades em paz, mas não conseguem se livrar do espelho. É a nossa vingança.


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