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NELSON MOTTA
As aparências não enganam
RIO DE JANEIRO - Quando Rita
Lee disse que "roqueiro brasileiro
sempre teve cara de bandido", foi
apenas uma liberdade poética. Se
pobres garotos rebeldes e metidos a
músicos têm cara de bandido, o que
dizer da galeria de horrores de políticos, juízes e lobistas que ilustram
o noticiário? É de dar medo.
Não sei se são tão feios porque fazem tanta coisa feia ou vice-versa.
Mas dificilmente se encontrarão
pintas mais brabas do que, visualizem, Hildebrando, Severino, Jader,
Waldomiro, Poletto, Lorenzetti,
Freud Godoy, o juiz Ernesto Dória e
seus óculos escuros. A lista é interminável e inesquecível, agora enriquecida pelo apavorante e auto-explicativo Dario Morelli. Não é preciso perguntar nada: tá na cara.
Nenhum bandido faria feio perto
deles.
Feiúra não é crime ou pecado,
nem beleza redime ou é mérito pessoal, como provam Collor e Luiz Estevão. Os bonitinhos, mas ordinários, são exceções. O normal são caras como PC Farias e os sinistros irmãos carecas, o bexiguento João
Alves e os anões do Orçamento, as
carrancas de mensaleiros e sanguessugas. É vasta a nossa cultura
visual da feiúra, estética e ética.
Mas a coisa está ainda mais feia:
diante dessa turma, Turcão e o Capitão Guimarães até exibem uma
aparência senhorial, e Marcola parece um professor.
A feiúra lhes acompanha pela vida através de espelhos implacáveis,
inferniza seus dias e estimula suas
invejas e rancores, os faz gastar seus
milhões na ilusão de comprar beleza e afeto, pobres diabos que se sentem tão ricos e poderosos. E tão irremediavelmente feios.
Diante dessa desgraça, os mais
caros e competentes advogados são
inúteis. Seus clientes podem desfrutar de suas impunidades em paz,
mas não conseguem se livrar do espelho. É a nossa vingança.
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