São Paulo, terça-feira, 15 de junho de 2010

Próximo Texto | Índice

Editoriais

editoriais@uol.com.br

Alternativas a Chávez


Presidente da Venezuela insiste na polarização do país, mas surgimento de partido moderado indica que tática pode ser superada


Ao manipular a Justiça da Venezuela e determinar a prisão do presidente da TV Globovisión, canal crítico ao governo, Hugo Chávez mais uma vez se valeu, na semana passada, de sua principal tática política. O incitamento à polarização da sociedade venezuelana, dividida entre aliados e inimigos do regime, tem permitido ao mandatário galvanizar expressivo apoio popular, aumentar o controle sobre as frágeis instituições do país e arregimentar uma milícia que age como guarda pretoriana.
A confluência de crescentes dificuldades econômicas e um decisivo pleito para renovar a composição da Assembleia Legislativa, a ser realizado em setembro, devem tornar cada vez mais frequentes atitudes intimidatórias e diversionistas por parte do caudilho.
O PIB encolheu quase 6% no primeiro trimestre do ano; e a inflação, até maio, já acumulava alta de 14%. Os dois péssimos resultados se combinam para deprimir a renda dos venezuelanos.
Carente de recursos, o governo também tem sido obrigado a flexibilizar sua política de valorização artificial da moeda.
Por anos perdurou uma cotação oficial do dólar que elevava o poder aquisitivo da população -num país em que a maior parte dos produtos de consumo é importada. O custo era arcado pelo governo e pela estatal petrolífera, a PDVSA, que viam reduzidas as receitas advindas da exportação do petróleo.
A crise econômica mundial, o recuo nos preços da commodity e a ineficiência administrativa do chavismo impediram a manutenção do populismo cambial.
A soma de problemas tem cobrado seu preço político. Pesquisas indicam que a popularidade do governo caiu da casa dos 70% para oscilar, nos últimos dois anos, entre 40% e 50%.
Em meio às dificuldades, aumentam as chances de mudança. Antes de tudo porque a oposição não repetirá, nas eleições legislativas de setembro, a estapafúrdia estratégia de 2005, quando abandonou a disputa.
Mas a principal notícia nesse front vem de um grupo de dissidentes do chavismo, liderado pelo governador do Estado de Lara, Henri Falcón. Sua nova legenda, Pátria Para Todos, defende o rompimento com a lógica política polarizada que divide o país.
Falcón elogia a elevação do padrão de vida da parcela mais pobre da população sob Hugo Chávez, mas condena o militarismo do mandatário, as arbitrariedades do governo, o ambiente de insegurança jurídica e a perseguição à iniciativa privada.
É improvável que a nova força suplante os chavistas e os opositores tradicionais na composição da Assembleia. Mas o real exercício democrático depende da consolidação de partidos moderados, capazes de negociar e fazer concessões. O simples surgimento de uma legenda centrista já deve ser saudado como um avanço na política do país vizinho.


Próximo Texto: Editoriais: Inteligência aloprada

Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.