São Paulo, segunda-feira, 15 de julho de 2002

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EDITORIAIS

DIFERENÇAS MÍNIMAS

A toada começou a ser tangida por Fernando Henrique Cardoso. Em 1994, o então ministro da Fazenda de Itamar Franco, já prevendo o sucesso do plano de estabilização, fechou um acordo político com o PFL de notórios caciques regionais, entre os quais Antonio Carlos Magalhães. A coalizão, que permitiu ao governo FHC segura maioria parlamentar, soava algo estranha na sua essência. A identidade dos tucanos, afinal, firmou-se contra caciquismos e tendências políticas arcaizantes.
Oito anos depois, o quadro eleitoral -nas suas conexões entre as disputas regionais e a corrida presidencial- presta homenagem à lógica que norteou a aliança de 94 entre tucanos e pefelistas. O elemento do antagonismo atávico, de cunho na maioria das vezes ideológico, está, por toda a parte, bastante matizado.
A tendência à minimização dos conflitos de idéias e à transformação da disputa eleitoral numa espécie de concurso para eleger o melhor gerente está em voga nas democracias consolidadas do mundo todo. A questão é saber se, no caso do Brasil -que ainda tem de equacionar seus problemas básicos-, a sensação de mesmice na política pode levar o sistema representativo a um beco sem saída, à não-oferta de alternativas ao eleitor e, portanto, ao país.
É sempre impreciso invocar o exemplo do que ocorre na Argentina para lançar luz sobre a realidade brasileira. Mas seria lícito indagar se os riscos da "argentinização" não recaem mais sobre o sistema político brasileiro do que sobre a economia.
Decerto os partidos no Brasil ainda não receberam do eleitor o desprezo nas urnas, como ocorreu nas últimas eleições diretas na Argentina, em que o "voto bronca" (brancos e nulos) superou a soma dos destinados ao partido mais votado. Tampouco políticos que saiam às ruas no Brasil correm o risco de ser enxovalhados pela população, como chegou a ocorrer no país vizinho.
Mas o desfecho trágico da política argentina fica como um alerta para o Brasil: o de que sempre tem limites a paciência do eleitor com um sistema partidário que tudo o que faz é oferecer "más de lo mismo".


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