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EDITORIAIS
DIFERENÇAS MÍNIMAS
A toada começou a ser tangida
por Fernando Henrique Cardoso. Em 1994, o então ministro da Fazenda de Itamar Franco, já prevendo
o sucesso do plano de estabilização,
fechou um acordo político com o
PFL de notórios caciques regionais,
entre os quais Antonio Carlos Magalhães. A coalizão, que permitiu ao
governo FHC segura maioria parlamentar, soava algo estranha na sua
essência. A identidade dos tucanos,
afinal, firmou-se contra caciquismos
e tendências políticas arcaizantes.
Oito anos depois, o quadro eleitoral -nas suas conexões entre as disputas regionais e a corrida presidencial- presta homenagem à lógica
que norteou a aliança de 94 entre tucanos e pefelistas. O elemento do antagonismo atávico, de cunho na
maioria das vezes ideológico, está,
por toda a parte, bastante matizado.
A tendência à minimização dos
conflitos de idéias e à transformação
da disputa eleitoral numa espécie de
concurso para eleger o melhor gerente está em voga nas democracias
consolidadas do mundo todo. A
questão é saber se, no caso do Brasil
-que ainda tem de equacionar seus
problemas básicos-, a sensação de
mesmice na política pode levar o sistema representativo a um beco sem
saída, à não-oferta de alternativas ao
eleitor e, portanto, ao país.
É sempre impreciso invocar o
exemplo do que ocorre na Argentina
para lançar luz sobre a realidade brasileira. Mas seria lícito indagar se os
riscos da "argentinização" não recaem mais sobre o sistema político
brasileiro do que sobre a economia.
Decerto os partidos no Brasil ainda
não receberam do eleitor o desprezo
nas urnas, como ocorreu nas últimas
eleições diretas na Argentina, em que
o "voto bronca" (brancos e nulos)
superou a soma dos destinados ao
partido mais votado. Tampouco políticos que saiam às ruas no Brasil
correm o risco de ser enxovalhados
pela população, como chegou a
ocorrer no país vizinho.
Mas o desfecho trágico da política
argentina fica como um alerta para o
Brasil: o de que sempre tem limites a
paciência do eleitor com um sistema
partidário que tudo o que faz é oferecer "más de lo mismo".
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