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Petróleo em partilha
Gestão Lula não elucida dúvidas cruciais de seu modelo para o pré-sal, projeto que correrá risco político no Congresso
O PALÁCIO do Planalto,
numa repisada tática
de contrapropaganda,
tentou distrair a atenção da opinião pública da CPI da
Petrobras, instalada ontem, com
o anúncio de um "fato positivo"
na área do petróleo. Encontrou
às pressas um meio de divulgar o
modelo exploratório proposto
pelo Executivo para a vasta província do chamado pré-sal.
Há um ano uma comissão do
governo debate como tratar, do
ponto de vista fiscal e econômico, a promissora área que dista
300 km da costa, estende-se do
Espírito Santo a Santa Catarina e
cuja exploração requer perfurações de até 8.000 metros em solo
oceânico. A intenção era só produzir cortina de fumaça, pois nenhuma novidade foi divulgada.
O governo confirmou sua proposta já conhecida: pretende
criar uma estatal para gerir os
novos campos e adotar, ali, um
modelo denominado partilha de
produção. Nenhuma definição
foi divulgada acerca do que mais
importa: que parcela da riqueza
extraída ficará com o Estado e
como esses recursos públicos serão aplicados.
Há tanta variação de modelos
de exploração no mundo que é
impossível dizer qual o mais adequado ao Brasil. Desde que o país
defina o essencial, como o nível
de taxação, é possível atingir o
objetivo por mais de uma via. Por
isso alguns especialistas argumentam que o formato atual, baseado em concessões de áreas
para o grupo empresarial que fizer a maior oferta no leilão, deveria ser mantido -com ajustes
que aumentem a fatia recolhida
ao governo, a título de royalties e
participações especiais.
A administração Lula optou
por uma mudança maior. A partilha de produção se assemelha,
no conceito, aos tradicionais
contratos agrícolas em que o dono da terra a cede a um agricultor
e este, por sua vez, se obriga a dividir a produção agrícola com o
proprietário. No caso do petróleo, o "dono da terra" é a União, e
o "agricultor" é a empresa escolhida para explorar o poço.
Há uma ligeira vantagem teórica nesse modelo para países que
possuem grandes reservas. Ele
permite que o governo nacional
dose com mais autonomia o fluxo da exploração e da venda do
petróleo. Não se pode ignorar
que grandes reservas do combustível fóssil despertam cobiça
internacional; é prudente, portanto, que o país mantenha algum tipo de controle de oferta e
se defenda, contratualmente, de
possíveis ações predatórias.
A tentativa de apropriar-se
dessa vantagem teórica, contudo, pode implicar, no caso brasileiro, custos muito altos. A opção
tomada pelo governo Lula requer mudanças importantes na
legislação, o que depende de negociações duríssimas no Congresso. Infelizmente, nossos parlamentares, salvo exceções de
praxe, tendem a vislumbrar nessa tramitação um grande butim
-os recursos extraordinários do
pré-sal-, a ser esquartejado e
destinado a fins estapafúrdios.
O Brasil não deveria imitar nações que afogam seu futuro no
petróleo abundante do presente.
É preciso assegurar hoje que o
dinheiro do petróleo ajude a modernizar o país -para que se torne mais rico, justo e produtivo
mesmo quando os poços do pré-sal estiverem exauridos.
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