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CORTEJANDO A BAIXARIA
O presidente da República e o líder
do principal partido de oposição parecem estar dando início a uma nova
estratégia de comunicação de massa.
Trata-se da estratégia Carlos Massa,
o Ratinho, com quem Fernando
Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula
da Silva entabulam cordiais relações.
Com chá e simpatia, cachaça e rabada, duas figuras de ponta da política nacional dão a impressão de que
procuram infiltrar sua imagem ou
mensagens em um programa célebre
por difundir despautérios, vulgaridade e idéias de grosseiro populismo.
Parece difícil encontrar outro motivo que não esse, o oportunismo, para
explicar a aproximação entre líderes
políticos de tal responsabilidade e
uma das grandes vozes da chalaça,
da pregação contra direitos humanos, do abuso da miséria. Nos momentos de pico de audiência, cerca de
2,4 milhões de pessoas assistem ao
programa de Massa apenas na região
metropolitana de São Paulo.
São milhões de eleitores de renda
em geral baixa e de escolaridade decerto exígua, cujo lazer parece ser assistir ao programa de Ratinho. O
apresentador se destaca por explorar
a ânsia de quem espera soluções rápidas e simples para seus terríveis problemas de insegurança, doença e pobreza. FHC e Lula estariam de fato esperando tomar carona na voz desse
homem para angariar sub-repticiamente apoio político?
Lula, líder da esquerda que pretendeu sepultar o populismo, a exploração da boa-fé da população pobre, vai
se prestar a isso? Com tal personagem se permite reunir Fernando
Henrique Cardoso? O sociólogo de
uma tradição intelectual que também
sempre execrou o populismo, presidente de um governo que ele mesmo
vive a dizer, por meio de seu secretário de Direitos Humanos, que programas desse gênero são deletérios?
Convencer o eleitor, sim. Mas por
meios democráticos consagrados
-exposição das idéias, debates, diálogo aberto com o público. Procurar
atalhos que apelem sobretudo para
as emoções do eleitorado soa sempre
como deplorável tentativa de manipulação de massas.
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