São Paulo, Quinta-feira, 15 de Julho de 1999
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CORTEJANDO A BAIXARIA

O presidente da República e o líder do principal partido de oposição parecem estar dando início a uma nova estratégia de comunicação de massa. Trata-se da estratégia Carlos Massa, o Ratinho, com quem Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva entabulam cordiais relações.
Com chá e simpatia, cachaça e rabada, duas figuras de ponta da política nacional dão a impressão de que procuram infiltrar sua imagem ou mensagens em um programa célebre por difundir despautérios, vulgaridade e idéias de grosseiro populismo.
Parece difícil encontrar outro motivo que não esse, o oportunismo, para explicar a aproximação entre líderes políticos de tal responsabilidade e uma das grandes vozes da chalaça, da pregação contra direitos humanos, do abuso da miséria. Nos momentos de pico de audiência, cerca de 2,4 milhões de pessoas assistem ao programa de Massa apenas na região metropolitana de São Paulo.
São milhões de eleitores de renda em geral baixa e de escolaridade decerto exígua, cujo lazer parece ser assistir ao programa de Ratinho. O apresentador se destaca por explorar a ânsia de quem espera soluções rápidas e simples para seus terríveis problemas de insegurança, doença e pobreza. FHC e Lula estariam de fato esperando tomar carona na voz desse homem para angariar sub-repticiamente apoio político?
Lula, líder da esquerda que pretendeu sepultar o populismo, a exploração da boa-fé da população pobre, vai se prestar a isso? Com tal personagem se permite reunir Fernando Henrique Cardoso? O sociólogo de uma tradição intelectual que também sempre execrou o populismo, presidente de um governo que ele mesmo vive a dizer, por meio de seu secretário de Direitos Humanos, que programas desse gênero são deletérios?
Convencer o eleitor, sim. Mas por meios democráticos consagrados -exposição das idéias, debates, diálogo aberto com o público. Procurar atalhos que apelem sobretudo para as emoções do eleitorado soa sempre como deplorável tentativa de manipulação de massas.




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