São Paulo, terça-feira, 15 de agosto de 2006

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Ninguém venceu

DEPOIS de um mês de combates e mais de mil mortes, foi finalmente estabelecido um cessar-fogo entre o Exército de Israel e a milícia libanesa Hizbollah. Ambos os lados saem derrotados da contenda.
Israel tentou valer-se da provocação lançada pelo grupo terrorista xiita para lançar uma ofensiva que o destruiria. Não só não foi capaz de fazê-lo como ainda sofreu baixas significativas, que ferem a aura de invencibilidade de seu Exército.
No plano político, o premiê Ehud Olmert também acumula fracassos. Embora o apoio inicial à guerra tenha sido grande, o simples fato de as forças israelenses não terem sido capazes de conter os foguetes do Hizbollah solapa as bases da proposta do partido Kadima de retirar-se unilateralmente dos territórios árabes. Os israelenses descobrem que deixar parte da Cisjordânia e construir uma cerca em volta dos palestinos não basta para protegê-los de inimigos.
A situação do Hizbollah não é melhor, embora o grupo tente qualificar como vitória o fato de ter resistido por um mês aos bombardeios israelenses. Para começar, a milícia sofreu perdas importantes, ainda que difíceis de quantificar. Prova-o a rapidez com que aceitou os termos de um cessar-fogo desfavorável.
Na esfera política, o quadro também é complexo. É verdade que os libaneses se uniram em torno do grupo que passou a simbolizar a resistência ao agressor. Mas não levará muito tempo até que os cerca de dois terços de libaneses não-xiitas se dêem conta de que foram atacados -o que danificou seriamente a infra-estrutura do país- por responsabilidade do Hizbollah. Não será surpresa se, acalmadas as coisas, crescer a pressão interna pelo desarmamento do grupo.
Espera-se que as respectivas derrotas levem os dois lados a dar passos concretos rumo à paz.


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