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CLÓVIS ROSSI
Prestação de contas
SÃO PAULO - Regra não escrita do
colunismo determina que se escreva preferencialmente (mas não
obrigatoriamente) sobre o assunto
que foi a manchete do dia. A manchete do dia desta Folha foi "Dilma
ultrapassa Serra e fica a 3 pontos da
vitória no 1º turno".
O problema é que já escrevi sobre
a perspectiva inevitável da ultrapassagem no remoto dia 28 de fevereiro. A chance de Dilma vencer no
primeiro turno apareceu no texto
de 1º de julho, há um mês e meio
portanto.
Não, não estou exibindo dotes de
adivinho, que não tenho. Nem presumindo de minha capacidade de
entender o povo brasileiro. Estou
simplesmente prestando contas,
até porque o leitor não é obrigado a
lembrar do que cada colunista escreveu e tem portanto o direito de
reclamar de um eventual silêncio
sobre o tema do momento.
Ainda como prestação de contas,
confesso que em nenhuma eleição
anterior me senti minimamente
confiante para manifestar impressões sobre o vencedor de uma forma tão aberta como agora.
Quando leitores perguntavam
quem ia ganhar, respondia sempre
que esperaria o Datafolha seguinte
para me manifestar -e assim ia até
a abertura das urnas.
Agora, no entanto, a persistência
do "feel good factor", o sentir-se
bem, essa característica do brasileiro que se instalou há uns dois anos,
pouco mais ou menos, é tão palpável a olho nu que ficou fácil adivinhar o resultado.
A revista "The Economist", aliás,
diz, em seu número desta semana,
que "feel good factor entrou na língua portuguesa".
Para fechar a prestação de contas: almocei segunda-feira com a
nova correspondente da revista no
Brasil, junto com o cônsul britânico, o responsável por Brasil e Cone
Sul no Foreign Office e a chefe de
imprensa do consulado. Comentei
com todos o "feel good". Devo ter
sido convincente.
crossi@uol.com.br
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