São Paulo, domingo, 15 de agosto de 2010

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EMÍLIO ODEBRECHT

O poder real

Nos últimos vinte anos, vimos acontecer a modernização das empresas brasileiras, a adoção de uma política eficaz de controle da inflação, a estabilidade monetária e o avanço na democratização. Nossa economia mudou. Apesar disso e, principalmente, do crescimento do setor produtivo, o Ministério da Fazenda e o Banco Central continuam exercendo um singular papel de destaque na estrutura de governo e no país.
É curioso porque foram-se os tempos em que a política econômica era ditada por um ministro-czar. Mas o fato é que, se fosse realizada uma pesquisa para verificar o grau de conhecimento, importância e prestígio dos componentes dos últimos governos na população, o nome do titular do Ministério da Fazenda certamente estaria entre eles.
Essa conclusão decorre da visibilidade que este ministério -junto com o Banco Central- continua tendo na mídia, em contraponto ao quase anonimato dos demais, particularmente os ligados às atividades produtivas. Isso deixa a impressão de que o poder real na administração pública brasileira está nas mãos de um órgão que responde por atividades-meio e não nas mãos das pastas diretamente ligadas às atividades-fim.
Ocorre que o crescimento produtivo não se dá por decreto. O país cresce em razão das condições gerais que são criadas e pela confiança dos investidores. São as decisões tomadas pelas empresas que movem a economia e geram empregos. A política econômica e o setor financeiro têm como finalidade e obrigação dar o suporte necessário para que as atividades produtivas sejam sustentáveis e o crescimento, contínuo.
É verdade que os investimentos em infraestrutura, na indústria e na agricultura, que são parte do Programa de Aceleração do Crescimento, têm sido divulgados e percebe-se o reconhecimento à importância e responsabilidades que tem o BNDES.
Porém, se continuarmos a entender que todos os problemas e soluções dependem do Ministério da Fazenda e do Banco Central, seguiremos reforçando a imagem de que o setor produtivo caminha a reboque do setor financeiro, como vem ocorrendo nas últimas décadas.
Já não somos o país que se assemelhava a um cassino, embora ainda patinemos em vários setores, inibidos por um certo pudor de assumir que devemos priorizar o que gera riqueza real, não riqueza virtual.
O que os ministérios das atividades-meio precisam é deixar de ser linha e agir, de fato, como apoios, por exemplo, da educação e do desenvolvimento tecnológico, que são condições indispensáveis à melhoria dos nossos produtos e serviços e da produtividade, que é base para a competitividade das empresas e do país.

EMÍLIO ODEBRECHT escreve aos domingos nesta coluna.
emilioodebrecht@uol.com.br



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