|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
EMÍLIO ODEBRECHT
O poder real
Nos últimos vinte anos, vimos acontecer a modernização das empresas brasileiras,
a adoção de uma política eficaz de controle da inflação, a
estabilidade monetária e o
avanço na democratização.
Nossa economia mudou. Apesar disso e, principalmente, do
crescimento do setor produtivo, o Ministério da Fazenda e o
Banco Central continuam
exercendo um singular papel
de destaque na estrutura de
governo e no país.
É curioso porque foram-se
os tempos em que a política
econômica era ditada por um
ministro-czar. Mas o fato é
que, se fosse realizada uma
pesquisa para verificar o grau
de conhecimento, importância e prestígio dos componentes dos últimos governos na
população, o nome do titular
do Ministério da Fazenda certamente estaria entre eles.
Essa conclusão decorre da
visibilidade que este ministério -junto com o Banco Central- continua tendo na mídia, em contraponto ao quase
anonimato dos demais, particularmente os ligados às atividades produtivas. Isso deixa a
impressão de que o poder real
na administração pública brasileira está nas mãos de um órgão que responde por atividades-meio e não nas mãos das
pastas diretamente ligadas às
atividades-fim.
Ocorre que o crescimento
produtivo não se dá por decreto. O país cresce em razão das
condições gerais que são criadas e pela confiança dos investidores. São as decisões tomadas pelas empresas que
movem a economia e geram
empregos. A política econômica e o setor financeiro têm como finalidade e obrigação dar
o suporte necessário para que
as atividades produtivas sejam sustentáveis e o crescimento, contínuo.
É verdade que os investimentos em infraestrutura, na
indústria e na agricultura, que
são parte do Programa de Aceleração do Crescimento, têm
sido divulgados e percebe-se o
reconhecimento à importância e responsabilidades que
tem o BNDES.
Porém, se continuarmos a
entender que todos os problemas e soluções dependem do
Ministério da Fazenda e do
Banco Central, seguiremos reforçando a imagem de que o
setor produtivo caminha a reboque do setor financeiro, como vem ocorrendo nas últimas décadas.
Já não somos o país que se
assemelhava a um cassino,
embora ainda patinemos em
vários setores, inibidos por
um certo pudor de assumir
que devemos priorizar o que
gera riqueza real, não riqueza
virtual.
O que os ministérios das atividades-meio precisam é deixar de ser linha e agir, de fato,
como apoios, por exemplo, da
educação e do desenvolvimento tecnológico, que são
condições indispensáveis à
melhoria dos nossos produtos
e serviços e da produtividade,
que é base para a competitividade das empresas e do país.
EMÍLIO ODEBRECHT escreve aos domingos
nesta coluna.
emilioodebrecht@uol.com.br
Texto Anterior: Rio de Janeiro - Carlos Heitor Cony: Quem é quem Próximo Texto: TENDÊNCIAS/DEBATES Jimmy Carter e Kofi Annan: Vacinas infantis precisam de incentivos Índice
|