São Paulo, domingo, 15 de setembro de 2002

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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES

O cinismo do Primeiro Mundo

A imprensa brasileira deu pouca ênfase ao significado da proposta do Brasil na Cúpula do Desenvolvimento Sustentado, realizada em Johannesburgo há poucas semanas.
O Brasil quis obter um compromisso dos demais países para que todos os esforços fossem dirigidos em favor da utilização de, pelo menos, 10% de energia renovável -hídrica, eólica, solar etc.-, que poluem pouco.
Apesar de todo o empenho da representação brasileira e da presença do próprio presidente Fernando Henrique Cardoso, que negociou pessoalmente com os demais mandatários do planeta, a proposta foi rejeitada.
No meu entender, essa aparente derrota foi uma estrondosa vitória. Sim, porque, mesmo excluindo a energia produzida por álcool e bagaço de cana, o Brasil possui 50% de energia renovável. Vejam bem, os demais países não quiseram aceitar 10%!
E por que a derrota é vitória? Porque, com isso, caiu a máscara dos que ficam acusando o Brasil de grande poluidor do mundo. É uma interminável procissão de ONGs, de lobbistas de toda a espécie e até mesmo de representantes oficiais dos países avançados, que vivem atirando pedras no Brasil como se este fosse um país, como o deles, que, para gerar energia, contamina o ar, a terra e as águas.
Com a proposta derrotada, deixamos os reis nus. Daqui para frente, para os que vierem nos atormentar com acusações infundadas, temos uma pergunta na ponta da língua: por que o seu país não aceitou a idéia de usar 10% de energia renovável?
Responda isso primeiro para depois continuarmos a conversa. Do contrário, guarde as suas pedras e volte para o seu poluído terreno nacional. Atualmente, cerca de 85% da energia do mundo é de origem fóssil, altamente poluente.
A participação dos Estados Unidos na geração de gás carbônico no total mundial aumentou de 9,1% para 18,1% nos últimos dez anos. Isso é uma enormidade quando se compara com a participação brasileira, que é de apenas 0,41%.
Espero que o leitor entenda exatamente o que aconteceu em Johannesburgo: foi o exercício do cinismo dos países ricos em relação aos países pobres.
Esse é um motivo para ficarmos ainda mais orgulhosos de nosso país. Além da imensidão territorial, Deus nos presenteou com muitos fatores favoráveis para transformarmos esta terra em uma grande nação: fertilidade do solo, abundância de água, sol o ano inteiro, bom regime climático e, sobretudo, extensas fontes de energia renovável.
Incluindo a biomassa, 60% da nossa energia vem de fontes renováveis, enquanto os países que assinaram o Protocolo de Kyoto prometeram reduzir a poluição em 12% até 2010. Será que vão cumprir? É evidente que não. Basta ver o seu comportamento na reunião de Johannesburgo.


Antônio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.


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