São Paulo, quarta-feira, 15 de setembro de 2004

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ACORDO COM A EUROPA

Depois de uma seqüência de idas e vindas, o acordo comercial que vem sendo discutido por Mercosul e União Européia (UE) parece estar se encaminhando para uma conclusão. Há sérias dúvidas se o prazo de 31 de outubro será cumprido, mas, a crer na avaliação do ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, falta pouco para que as propostas sejam apresentadas por escrito e o entendimento, assinado.
O pouco que resta, no entanto, ainda é muito, pois são justamente alguns dos pontos mais sensíveis, que podem levar ao desentendimento e a novo retrocesso nas negociações.
O item mais delicado -e o que mais interessa ao Mercosul- é o que diz respeito à oferta européia de abertura de seu mercado de bens agrícolas. Tradicionalmente protecionistas em agricultura, assim como os Estados Unidos e outros países ricos, os europeus têm procurado alongar no tempo as concessões que se dispõem a fazer.
Já o Brasil e seus parceiros sul-americanos levantam dificuldades para o acesso da UE a outras áreas, como a de compras governamentais. O governo brasileiro vê nos gastos realizados pelo setor público um possível instrumento de política industrial, que poderia ser neutralizado com a liberalização.
Num mundo extremamente competitivo nem sempre os acordos são firmados dentro dos prazos estabelecidos. Impasses, rupturas e reconciliações fazem parte de uma dinâmica que o Brasil tem tido oportunidade de conhecer mais de perto nos últimos anos, seja no âmbito do próprio Mercosul, seja em outros fóruns.
Essa constatação, no entanto, não pode servir para encobrir intransigências, muito menos fundadas em concepções ideológicas duvidosas (como algumas em voga no Itamaraty), que ponham a perder as chances de aprofundar relacionamentos comerciais promissores. Um desenlace favorável no acordo Mercosul-UE exigirá, por certo, que ambas as partes cedam -e é de esperar que o façam de maneira equilibrada e produtiva para todos.


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