São Paulo, sexta-feira, 15 de setembro de 2006

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CLÓVIS ROSSI

1 + 1= primitivismo

SÃO PAULO - O Brasil não é apenas o país da piada pronta, como ensina faz tempo o grande filósofo José Simão. É também o país da "coluna pronta". É só somar 1 mais 1 e qualquer pessoa com mais de um neurônio percebe que há alguma coisa de fundamentalmente errado, ainda que a grande maioria prefira fazer silêncio.
Somemos pois: o primeiro 1 é a manchete da Folha de ontem ("Jovens são 45,5% dos desempregados"). O segundo 1 é o título seguinte, sempre na capa do jornal: "Dívida pública cresce R$ 25 bi em agosto com juros e emissões". Só quem não quer não percebe que o primeiro 1 é filho legítimo do segundo 1.
O fato é que o Brasil vem enxugando gelo há muitos anos, nos governos FHC e Lula. Paga uma monstruosidade de juros de sua dívida, para o que é obrigado a deixar de fazer investimentos públicos, que são um dos motores do crescimento, que, por sua vez, passa a ser necessariamente pífio e, por extensão, incapaz de gerar os empregos necessários para atender à massa que chega todos os anos ao mercado de trabalho.
Mais números: só o aumento da dívida pública em um único mês significa cerca de três vezes tudo o que o governo aloca como esmola para os pobres (R$ 8,5 bilhões/ano). Imagine o estoque da dívida. Como 70% dos juros pagos pela dívida vão para o bolso das 20 mil famílias que formam não o andar de cima, mas a cobertura do andar de cima, tem-se que é descarada demagogia o presidente Lula intitular-se o "pai dos pobres".
O cálculo das 20 mil famílias é de um economista eleitor de Lula, Márcio Pochmann.
Quem olhou a "Caravana do Jornal Nacional" por trás de Pedro Bial, viu um país primitivo, ainda no século 19, se tanto. Nenhuma novidade: é, de novo, a soma do 1 mais 1 dos títulos da Folha de quinta-feira.


crossi@uol.com.br

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