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CLÓVIS ROSSI
1 + 1= primitivismo
SÃO PAULO - O Brasil não é apenas o país da piada pronta, como
ensina faz tempo o grande filósofo
José Simão. É também o país da
"coluna pronta". É só somar 1 mais 1
e qualquer pessoa com mais de um
neurônio percebe que há alguma
coisa de fundamentalmente errado,
ainda que a grande maioria prefira
fazer silêncio.
Somemos pois: o primeiro 1 é a
manchete da Folha de ontem ("Jovens são 45,5% dos desempregados"). O segundo 1 é o título seguinte, sempre na capa do jornal: "Dívida pública cresce R$ 25 bi em agosto com juros e emissões".
Só quem não quer não percebe
que o primeiro 1 é filho legítimo do
segundo 1.
O fato é que o Brasil vem enxugando gelo há muitos anos, nos governos FHC e Lula. Paga uma
monstruosidade de juros de sua dívida, para o que é obrigado a deixar
de fazer investimentos públicos,
que são um dos motores do crescimento, que, por sua vez, passa a ser
necessariamente pífio e, por extensão, incapaz de gerar os empregos
necessários para atender à massa
que chega todos os anos ao mercado de trabalho.
Mais números: só o aumento da
dívida pública em um único mês
significa cerca de três vezes tudo o
que o governo aloca como esmola
para os pobres (R$ 8,5 bilhões/ano). Imagine o estoque da dívida.
Como 70% dos juros pagos pela dívida vão para o bolso das 20 mil famílias que formam não o andar de
cima, mas a cobertura do andar de
cima, tem-se que é descarada demagogia o presidente Lula intitular-se o "pai dos pobres".
O cálculo das 20 mil famílias é de
um economista eleitor de Lula,
Márcio Pochmann.
Quem olhou a "Caravana do Jornal Nacional" por trás de Pedro
Bial, viu um país primitivo, ainda
no século 19, se tanto.
Nenhuma novidade: é, de novo, a
soma do 1 mais 1 dos títulos da
Folha de quinta-feira.
crossi@uol.com.br
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