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ELIANE CANTANHÊDE
Parece, mas não é
BRASÍLIA - Chávez pensa que é
Simon Bolívar, e Evo Morales pensa que é Chávez. Mas uma coisa é
uma coisa, outra coisa é outra coisa.
Chávez tem a Venezuela, o petróleo, uma popularidade testada sucessivamente e uma personalidade
militar. Tem força. Morales tem a
Bolívia, o gás, uma popularidade
ainda movida a esperança e uma
personalidade indígena. É frágil.
A Venezuela é a quinta produtora
de petróleo do mundo, já a Bolívia é
o país mais pobre da América do
Sul. Outra diferença fundamental é
que Chávez compra aviões e fuzis
russos, mas só mira sua artilharia
verbal contra os EUA, mantendo
intactos todos os contratos com o
país do "demônio" Bush.
Já Morales não tem aviões nem
fuzis e dispara sua fúria anti-imperialista em duas direções: retoricamente, contra os EUA; na prática,
explodindo relações e contratos
com o Brasil. Seu alvo predileto é a
Petrobras, o que é perigoso e pode
ter um efeito devastador para a Bolívia. Afinal, do que adianta ter gás
se não há empresas para explorá-lo? E quem, em sã consciência, está
disposto a investir na Bolívia hoje?
Contra o governo Bush, Morales
atira palavras, acusando um "complô" ou uma "conspiração" de Washington contra a Bolívia. Mas palavras não mordem. O que ele faz com
a Petrobras, sim, tira pedaço.
Primeiro, Morales nacionalizou a
exploração do gás. Agora, assume as
refinarias sem pagar nada, o que
equivale a expropriação (lembra do
termo?). A Petrobras passa de dona
a mera operadora do seu próprio
empreendimento. Isso tem custo
alto para a Petrobras, para o Brasil e
para Morales, que se encaixa cada
vez menos no perfil de Chávez e
mais no de Quixote.
O governo brasileiro continua
perplexo. A área técnica esperneia,
mas a política (aí incluído o Itamaraty) não tem a menor idéia do que
dizer e do que fazer com o "companheiro" abusado. Um Chávez não
era pouco. Um e meio é demais.
elianec@uol.com.br
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