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Finança selvagem
Natureza e dimensão da crise indicam urgência de alterar a arquitetura financeira global, a fim de reforçar a regulação
A
INTENSIFICAÇÃO da
concorrência nos mercados financeiros levou a mudanças profundas nas práticas de intermediação, nos métodos de avaliação
de ativos e na gestão de riscos.
Os grandes bancos passaram a
empacotar diferentes tipos de
dívida -tais como bônus das empresas, faturas de cartão de crédito, hipotecas etc.- e distribuí-las para os investidores, com a
anuência das agências de classificação de risco. Entre os compradores predominavam os fundos de pensão, os fundos de investimento, as seguradoras e os
fundos hedge -estes altamente
especulativos.
Nesse processo, emergiram
inúmeros instrumentos financeiros, cada vez mais complexos
e menos transparentes. A propaganda dos adeptos do sistema dizia que o desenvolvimento desses mecanismos, ao possibilitar
uma dispersão dos riscos de calote para outros agentes, contribuiria para tornar mais seguros
os negócios bancários. O risco,
entretanto, não desapareceu. Foi
segmentado e redistribuído.
A fartura de dinheiro à procura
de aplicações mais rentáveis
exerceu uma pressão descomunal para que se rebaixassem os
critérios de segurança quanto
aos tomadores finais. Daí surgiu
o chamado "subprime": empréstimos imobiliários para pessoas
incapazes de comprovar condições mínimas de pagar o débito.
Algumas dessas inovações financeiras, de tão arriscadas, foram apelidadas pelos próprios
operadores dos mercados de "lixo tóxico". Diante da dificuldade
para encontrar um tomador, os
bancos passaram a deslocar essas operações arriscadas para
paraísos fiscais, onde operam os
fundos hedge. Esses fundos tomam recursos emprestados para
multiplicar suas apostas em diversos mercados pelo mundo.
Dessa forma, foi possível espalhar os riscos em âmbito global.
Quando dívidas começaram a
não ser pagas, o mundo foi surpreendido pela dimensão do
problema e o pânico se espalhou.
Os bancos foram então obrigados a trazer para seus balanços
os ativos que haviam retirado.
Foram forçados a apoiar os fundos de investimento que compraram seus produtos exóticos.
Tiveram ainda de socorrer as seguradoras que haviam endossado muitas dessas operações. Os
prejuízos registrados já ultrapassam US$ 500 bilhões.
Assim, a natureza profunda da
crise provém do próprio funcionamento do sistema financeiro
desregulado. A restauração da
confiança exigirá uma nova regulamentação. Espera-se que todas as instituições que engendraram essa gigantesca crise sejam trazidas para a esfera da supervisão pública. Não basta controlar os bancos, é necessário envolver as instituições financeiras
não-bancárias. Operações feitas
fora do balanço devem ser restritas ao mínimo, senão proibidas.
Diante da magnitude do prejuízo que tem recaído sobre os
contribuintes, é preciso declarar
encerrada, o quanto antes, a era
da finança selvagem.
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