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RUY CASTRO
Estátuas gregas
RIO DE JANEIRO - Pelo vidro do
carro, leio o texto no adesivo de um
táxi à frente: "Maricota é minha
mulher. Maricotinha é minha filha.
Maricoteca é minha mãe. Maricão é
meu amigo. [Não são os nomes verdadeiros.] Amo minha família.
Amo meus amigos. Eles me amam.
Amo Deus. Deus me ama". Meio
mareado diante de tanto amor, pergunto: Ótimo, mas, e eu com isso?
Salões de beleza abundam hoje
em todas as cidades, banhados por
uma iluminação que atravessa as
vitrines e serve um show ao vivo para a calçada. Lá dentro, expostas à
apreciação pública, senhoras de
roupão felpudo ostentam papelotes no cabelo e chumaços de algodão entre os dedos dos pés, enquanto outras depilam as canelas
ou descolorem os bigodes. Pergunto: Lindo, mas, e eu com isso?
Da mesma forma, me contaram
que a emergente Fulaninha contratou uma equipe profissional para
filmar seu primeiro parto. Apesar
de certa dificuldade inicial -a bacia de Fulaninha era muito estreita
para a passagem do feto-, Sicraninho nasceu com 4 kg e 50 cm. O filme mostrando tudo isso saiu ótimo.
Beltrano, o pai orgulhoso, ficou ao
lado da esposa durante o parto. O
resultado pode ser conferido no Facebook de Fulaninha, onde o filme
foi "postado" no mesmo dia.
Ouço dizer também que as pessoas entregam as maiores intimidades sobre si mesmas nas "redes sociais". Expõem seus sentimentos
mais profundos, publicam suas fotos, revelam seus hobbies ou onde
passam as férias, e tudo isso com
nome, sobrenome, endereço, saldo
bancário. É uma necessidade compulsiva de dividir suas vidas com
estranhos.
Enfim, o brasileiro adora uma indiscrição. Exceto quando se trata
dos candidatos à Presidência.
Qualquer denúncia de maracutaia
ou ligação espúria é logo tachada
de calúnia, exploração eleitoral ou
lavagem de roupa suja. De repente,
somos todos estátuas gregas.
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