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FERNANDO RODRIGUES
Intolerância
BRASíLIA - Sempre preocupado
em explicar sua aproximação com
autocratas e ditadores pelo mundo
afora como sendo uma tentativa de
promover a paz e o diálogo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva teve
um momento Lula anteontem.
Em Santa Catarina, durante um
comício eleitoral, o petista lamentou ter dado apoio em 2002 a Luiz
Henrique (PMDB), que se elegeu
governador local: "Eu pensava que
era para mudar. Mas ele trouxe de
volta o DEM, que nós precisamos
extirpar da política brasileira".
Lula repetiu quase à perfeição a
manifestação de intolerância política proferida em agosto de 2005 pelo
então presidente nacional do PFL
(hoje DEM), Jorge Bornhausen. Ao
mencionar o caso do mensalão, o
demista-pefelista disse o seguinte:
"Não estou triste nem desencantado [com o escândalo], pelo contrário. Estou encantado porque vamos
nos ver livre dessa raça durante pelo menos 30 anos".
Os dois episódios -Bornhausen
em 2005 e Lula nesta semana- são
exemplares da fase mesozoica da
democracia brasileira quando se
trata de valores republicanos. Os
casos indicam também a incapacidade atávica dos políticos a respeito de conviver com o contraditório.
Como se sabe, Bornhausen não
conseguiu se ver livre da raça dos
petistas. Em 2006, os eleitores foram generosos. Reelegeram Lula,
apesar do mensalão.
Mas em 2011 o país deverá ter o
Congresso mais chapa-branca desde a volta do sistema de escolha direta de presidente. No Planalto, as
pesquisas mostram que Dilma
Rousseff continuará a obra de Lula.
A prevalecer a lógica de "extirpar"
siglas de oposição, a intolerância
será a regra na política nacional.
Hoje, há quatro anos, surgiram
os aloprados. Lula foi ao segundo
turno. Desta vez, nada se aproxima
da octanagem do escândalo de
2006 e como força para influir decisivamente no dia 3 de outubro.
fernando.rodrigues@grupofolha.com.br
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