São Paulo, quarta-feira, 15 de setembro de 2010

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FERNANDO RODRIGUES

Intolerância

BRASíLIA - Sempre preocupado em explicar sua aproximação com autocratas e ditadores pelo mundo afora como sendo uma tentativa de promover a paz e o diálogo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva teve um momento Lula anteontem.
Em Santa Catarina, durante um comício eleitoral, o petista lamentou ter dado apoio em 2002 a Luiz Henrique (PMDB), que se elegeu governador local: "Eu pensava que era para mudar. Mas ele trouxe de volta o DEM, que nós precisamos extirpar da política brasileira".
Lula repetiu quase à perfeição a manifestação de intolerância política proferida em agosto de 2005 pelo então presidente nacional do PFL (hoje DEM), Jorge Bornhausen. Ao mencionar o caso do mensalão, o demista-pefelista disse o seguinte: "Não estou triste nem desencantado [com o escândalo], pelo contrário. Estou encantado porque vamos nos ver livre dessa raça durante pelo menos 30 anos".
Os dois episódios -Bornhausen em 2005 e Lula nesta semana- são exemplares da fase mesozoica da democracia brasileira quando se trata de valores republicanos. Os casos indicam também a incapacidade atávica dos políticos a respeito de conviver com o contraditório.
Como se sabe, Bornhausen não conseguiu se ver livre da raça dos petistas. Em 2006, os eleitores foram generosos. Reelegeram Lula, apesar do mensalão.
Mas em 2011 o país deverá ter o Congresso mais chapa-branca desde a volta do sistema de escolha direta de presidente. No Planalto, as pesquisas mostram que Dilma Rousseff continuará a obra de Lula.
A prevalecer a lógica de "extirpar" siglas de oposição, a intolerância será a regra na política nacional.
Hoje, há quatro anos, surgiram os aloprados. Lula foi ao segundo turno. Desta vez, nada se aproxima da octanagem do escândalo de 2006 e como força para influir decisivamente no dia 3 de outubro.

fernando.rodrigues@grupofolha.com.br


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