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CLÓVIS ROSSI
Mesquinharia inútil
SÃO PAULO - Tomo todas as pesquisas e os indicadores sobre o humor
dos investidores com a mesma cautela ontem exposta por Luís Nassif. Ou
seja, são uma indicação da disposição dos investidores, não as tábuas
da lei.
Feita essa ressalva fundamental, fica claro que essa gente é absolutamente insaciável.
Começou exigindo que o governo
Lula não fizesse nada, rigorosamente
nada, que fugisse à ortodoxia mais
rasteira. O governo Lula, por sua vez,
reagiu às exigências com uma submissão inacreditável.
Não só aderiu à ortodoxia, da noite
para o dia, como levou-a a extremos
inacreditáveis.
Depois, os mercados passaram a cobrar reformas, essa palavra transformada em muleta retórica. Quando
um dirigente ou palpiteiro qualquer
não tem a menor idéia do que fazer
para tirar o país da mediocridade,
saca a palavra "reformas".
Depois, veio a cobrança de crescimento. Preservar a estabilidade já
não bastava. Era preciso crescer -e
de maneira sustentada. Veio o crescimento, nada espetacular, mas crescimento de todo modo, o suficiente para que os áulicos palacianos acreditassem estar diante de uma nova era
de ouro.
Não é que agora, não obstante o
alucinado bom-mocismo do PT, as
mais recentes pesquisas sobre o humor dos mercados mostram que o
Brasil continua sendo de segunda
mão como destino para investimentos? Ingratos.
Enquanto isso, até o assessor especial do presidente, também assessor
espiritual, frei Betto, lamenta que "o
ajuste fiscal não se coaduna com a
responsabilidade social (...). Sobretudo quando não se tem, para o Brasil
em que vivemos, um projeto e uma
estratégia de desenvolvimento sustentável para o Brasil que nós queremos. A política amesquinha-se quando perde o horizonte utópico. E as
nossas vidas também" (Folha, 12/10/
04, página A3).
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