São Paulo, sexta-feira, 15 de outubro de 2004

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CLÓVIS ROSSI

Mesquinharia inútil

SÃO PAULO - Tomo todas as pesquisas e os indicadores sobre o humor dos investidores com a mesma cautela ontem exposta por Luís Nassif. Ou seja, são uma indicação da disposição dos investidores, não as tábuas da lei.
Feita essa ressalva fundamental, fica claro que essa gente é absolutamente insaciável.
Começou exigindo que o governo Lula não fizesse nada, rigorosamente nada, que fugisse à ortodoxia mais rasteira. O governo Lula, por sua vez, reagiu às exigências com uma submissão inacreditável.
Não só aderiu à ortodoxia, da noite para o dia, como levou-a a extremos inacreditáveis.
Depois, os mercados passaram a cobrar reformas, essa palavra transformada em muleta retórica. Quando um dirigente ou palpiteiro qualquer não tem a menor idéia do que fazer para tirar o país da mediocridade, saca a palavra "reformas".
Depois, veio a cobrança de crescimento. Preservar a estabilidade já não bastava. Era preciso crescer -e de maneira sustentada. Veio o crescimento, nada espetacular, mas crescimento de todo modo, o suficiente para que os áulicos palacianos acreditassem estar diante de uma nova era de ouro.
Não é que agora, não obstante o alucinado bom-mocismo do PT, as mais recentes pesquisas sobre o humor dos mercados mostram que o Brasil continua sendo de segunda mão como destino para investimentos? Ingratos.
Enquanto isso, até o assessor especial do presidente, também assessor espiritual, frei Betto, lamenta que "o ajuste fiscal não se coaduna com a responsabilidade social (...). Sobretudo quando não se tem, para o Brasil em que vivemos, um projeto e uma estratégia de desenvolvimento sustentável para o Brasil que nós queremos. A política amesquinha-se quando perde o horizonte utópico. E as nossas vidas também" (Folha, 12/10/ 04, página A3).


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