São Paulo, sexta-feira, 15 de outubro de 2004

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ELIANE CANTANHÊDE

Igual para todos

BRASÍLIA - Atenção, senhores prefeitos já eleitos, candidatos do segundo turno, José Serra e Marta Suplicy: hoje é Dia do Professor.
São 5.561 municípios, 180 mil escolas públicas de nível fundamental e médio e cerca de 2,5 milhões de professores. E o ensino é municipalizado. O que cada um dos senhores pretende fazer a partir de 1º de janeiro com os professores e as escolas?
É provável que, numa enquete real, cada um respondesse do seu jeito, só para eleitor ouvir e o futuro prefeito esquecer. Mas o pior é que cada prefeito pode, de fato, fazer como quiser.
Se em São Paulo há escolas de lata, imagine o interior do Piauí, de Mato Grosso ou do Amazonas. E como são, o que sabem, o que ganham e como vivem os professores de Norte a Sul.
É por isso que o ex-reitor, ex-governador e ex-ministro da Educação Cristovam Buarque defendeu ontem, numa mesa-redonda na UnB sobre erradicação da miséria, a federalização do ensino fundamental e médio.
A União instituiria três pisos: o piso salarial do professor, um conteúdo mínimo igual para todos e uma relação de equipamentos obrigatórios, como paredes de tijolo, banheiros e um número "x" de televisores.
A idéia é polêmica por vários motivos, e um deles é que a municipalização de verbas e responsabilidades tirou os prefeitos do jugo dos governadores dos seus Estados, especialmente grave quando um faz oposição ao outro. Os repasses são diretos.
Mas, estrategicamente, a proposta faz sentido. Hoje, em vez de serem alavanca contra a desigualdade social, as escolas são justamente o contrário: instrumento para aprofundar e eternizar essa desigualdade. Professores e alunos dos centros ricos têm uma formação e os das periferias e regiões pobres, outra, bem diferente. A federalização poderia, pelo menos em tese, aproximar as chances.
Buarque é um produtor de idéias que vagueiam entre o sonho e a realidade e não sensibilizaram o governo do seu partido, o PT. Elas, porém, são de grande valia. Pelo menos obrigam os governantes a pensar.


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