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NELSON MOTTA
Sonho de Rosinha, pesadelo carioca
RIO DE JANEIRO - "O consumidor financia o tráfico e o Estado paga o pato", reclama a governadora Rosinha.
O que aconteceria se todos os consumidores de drogas cariocas ouvissem
as orações da governadora e abandonassem os seus abomináveis vícios?
Os chefões imediatamente transfeririam suas operações para São Paulo, Belo Horizonte ou Vitória. Fariam
alianças ou guerras com os poderes
locais. Banhos de sangue e chacinas.
Com o fim do tráfico, legiões de
"soldados", "aviões", "olheiros" e
"gerentes de bocas", milhares de bandidos estariam desempregados. E armados. Certamente não encontrariam emprego em fábricas, lojas ou
escritórios, pois está difícil até para os
honestos e competentes.
Ficariam onde sempre estiveram,
esquecidos pelo Estado, nos morros,
na periferia, na Baixada, assaltando,
matando, roubando, seqüestrando,
descendo sobre a cidade indefesa.
Sem drogas para vender, não venderiam doces, venderiam armas.
Os juízes, policiais e políticos corruptos bancados pelo "movimento",
que perderiam suas mesadas, iriam
buscá-las em outras fontes, com os
contrabandistas, os fraudadores, os
adulteradores de combustível, os ladrões de carga e os lavadores de dinheiro.
Segundo a polícia, o tráfico é bastante organizado e bem armado. E
invencível: cai um chefe, imediatamente assume outro. É chocante, mas
ao ponto de descontrole que a situação chegou, a conclusão lógica -e
absurda!- é que, sem o tráfico, que é
relativamente organizado e tem razoável controle sobre suas tropas, seria muito pior. Seria a desordem absoluta, o caos urbano, a pilhagem, os
bárbaros rompendo os portões, se é
que ainda há portões.
Quem pagaria o pato não seria o
Estado, mas os cidadãos indefesos, os
patos que pagam mais de um terço de
seus salários para sustentá-lo.
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