São Paulo, sexta-feira, 15 de outubro de 2004

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NELSON MOTTA

Sonho de Rosinha, pesadelo carioca

RIO DE JANEIRO - "O consumidor financia o tráfico e o Estado paga o pato", reclama a governadora Rosinha. O que aconteceria se todos os consumidores de drogas cariocas ouvissem as orações da governadora e abandonassem os seus abomináveis vícios?
Os chefões imediatamente transfeririam suas operações para São Paulo, Belo Horizonte ou Vitória. Fariam alianças ou guerras com os poderes locais. Banhos de sangue e chacinas.
Com o fim do tráfico, legiões de "soldados", "aviões", "olheiros" e "gerentes de bocas", milhares de bandidos estariam desempregados. E armados. Certamente não encontrariam emprego em fábricas, lojas ou escritórios, pois está difícil até para os honestos e competentes.
Ficariam onde sempre estiveram, esquecidos pelo Estado, nos morros, na periferia, na Baixada, assaltando, matando, roubando, seqüestrando, descendo sobre a cidade indefesa. Sem drogas para vender, não venderiam doces, venderiam armas.
Os juízes, policiais e políticos corruptos bancados pelo "movimento", que perderiam suas mesadas, iriam buscá-las em outras fontes, com os contrabandistas, os fraudadores, os adulteradores de combustível, os ladrões de carga e os lavadores de dinheiro.
Segundo a polícia, o tráfico é bastante organizado e bem armado. E invencível: cai um chefe, imediatamente assume outro. É chocante, mas ao ponto de descontrole que a situação chegou, a conclusão lógica -e absurda!- é que, sem o tráfico, que é relativamente organizado e tem razoável controle sobre suas tropas, seria muito pior. Seria a desordem absoluta, o caos urbano, a pilhagem, os bárbaros rompendo os portões, se é que ainda há portões.
Quem pagaria o pato não seria o Estado, mas os cidadãos indefesos, os patos que pagam mais de um terço de seus salários para sustentá-lo.


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