São Paulo, quarta-feira, 15 de outubro de 2008

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Crise em etapas

Quando for vencido o pânico financeiro, ações para evitar depressão do consumo e do emprego estarão na ordem do dia

O ANÚNCIO da versão final do plano do governo americano para resgatar o setor financeiro fechou um ciclo nesta crise. Nos Estados Unidos e no bloco europeu, estendeu-se a mais profunda e abrangente rede de proteção estatal já concebida a fim de evitar falências generalizadas e para incentivar, quase obrigar, a retomada das operações de crédito mais vitais.
Governos dos países ricos, seguindo o pioneirismo dos ingleses, já dão os passos iniciais para tornarem-se acionistas de grandes, médias e pequenas instituições privadas. EUA, Alemanha, Reino Unido e França reservaram, juntos, US$ 600 bilhões para comprar ações de bancos em dificuldades. Trata-se de dinheiro do contribuinte que fluirá, diretamente, para o balanço das empresas. Desse montante, US$ 120 bilhões serão repassados a sete grandes bancos americanos.
Seguros de depósitos praticamente universais, garantias estatais do crédito interbancário estendidas por anos, ação direta dos BCs nos empréstimos a empresas do setor produtivo e recursos ilimitados para impedir insolvências bancárias no curtíssimo prazo completam o acervo comum dos planos adotados nos dois lados do Atlântico. Os principais governos do mundo tornaram-se, emergencialmente, fiadores do sistema financeiro.
Os primeiros dois dias de reação nas Bolsas e nos mercados de crédito mostraram que tal programa radical era mesmo necessário para interromper o mergulho vertiginoso da semana passada. Esta crise tem sido pródiga em fulminar expectativas que não sejam sombrias, mas é difícil vislumbrar motivo para nova corrida contra bancos quando o risco financeiro foi estatizado.
O encerramento do ciclo de medidas urgentes contra o pânico permitirá que as autoridades se dediquem a enfrentar com maior ênfase a deterioração, já em curso, da produção e do emprego. Ainda não há propostas maduras a esse respeito, mas todas as especulações redundam num aumento brusco das despesas do governo, do déficit e do endividamento público nos países desenvolvidos.
O plano de resgate aos bancos americanos recrutou uma parcela significativa de recursos estatais -que só serão recuperados, se forem, nos próximos anos-, mas pouco beneficia os mutuários incapazes de honrar suas hipotecas, por exemplo. Com o consumo e o crédito deprimidos, o nível de emprego tende a cair depressa, e um dos remédios conhecidos para mitigar a derrocada é a elevação dos investimentos públicos em infra-estrutura.
Resta saber em que velocidade o governo dos EUA vai se recompor para atuar com eficácia nessa frente, menos prestigiada nas últimas décadas -quando expansão de investimento público se confundiu com despesa militar.


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