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Crise em etapas
Quando for vencido o pânico financeiro, ações para evitar depressão do consumo e do emprego estarão na ordem do dia
O ANÚNCIO da versão final do plano do governo americano para resgatar o setor financeiro fechou um ciclo nesta crise.
Nos Estados Unidos e no bloco
europeu, estendeu-se a mais
profunda e abrangente rede de
proteção estatal já concebida a
fim de evitar falências generalizadas e para incentivar, quase
obrigar, a retomada das operações de crédito mais vitais.
Governos dos países ricos, seguindo o pioneirismo dos ingleses, já dão os passos iniciais para
tornarem-se acionistas de grandes, médias e pequenas instituições privadas. EUA, Alemanha,
Reino Unido e França reservaram, juntos, US$ 600 bilhões para comprar ações de bancos em
dificuldades. Trata-se de dinheiro do contribuinte que fluirá, diretamente, para o balanço das
empresas. Desse montante, US$
120 bilhões serão repassados a
sete grandes bancos americanos.
Seguros de depósitos praticamente universais, garantias estatais do crédito interbancário estendidas por anos, ação direta
dos BCs nos empréstimos a empresas do setor produtivo e recursos ilimitados para impedir
insolvências bancárias no curtíssimo prazo completam o acervo
comum dos planos adotados nos
dois lados do Atlântico. Os principais governos do mundo tornaram-se, emergencialmente, fiadores do sistema financeiro.
Os primeiros dois dias de reação nas Bolsas e nos mercados de
crédito mostraram que tal programa radical era mesmo necessário para interromper o mergulho vertiginoso da semana passada. Esta crise tem sido pródiga
em fulminar expectativas que
não sejam sombrias, mas é difícil
vislumbrar motivo para nova
corrida contra bancos quando o
risco financeiro foi estatizado.
O encerramento do ciclo de
medidas urgentes contra o pânico permitirá que as autoridades
se dediquem a enfrentar com
maior ênfase a deterioração, já
em curso, da produção e do emprego. Ainda não há propostas
maduras a esse respeito, mas todas as especulações redundam
num aumento brusco das despesas do governo, do déficit e do
endividamento público nos países desenvolvidos.
O plano de resgate aos bancos
americanos recrutou uma parcela significativa de recursos estatais -que só serão recuperados,
se forem, nos próximos anos-,
mas pouco beneficia os mutuários incapazes de honrar suas hipotecas, por exemplo. Com o
consumo e o crédito deprimidos,
o nível de emprego tende a cair
depressa, e um dos remédios conhecidos para mitigar a derrocada é a elevação dos investimentos públicos em infra-estrutura.
Resta saber em que velocidade
o governo dos EUA vai se recompor para atuar com eficácia nessa
frente, menos prestigiada nas últimas décadas -quando expansão de investimento público se
confundiu com despesa militar.
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