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Retrocesso armado
O S SUCESSOS da campanha
iniciada pelo governo federal após a adoção do Estatuto do Desarmamento (2003)
já foram mais que louvados. Tida
como uma das causas na redução
de 10% em três anos nas mortes
por armas de fogo, a iniciativa dá
agora sinais de esgotamento.
Em setembro, mesmo após um
mês de anúncios publicitários
para incentivar o registro, meras
18.308 entraram no Serviço Nacional de Armas (Sinarm), das
quais 5.602 são registros novos e
12.706, recadastramentos.
A cifra é pequena. Segundo
Marcos Dantas, do Sinarm, poderiam ser legalizadas ao menos
300 mil armas. Há 6,38 milhões
no sistema e estimadas 4 milhões sem registro em poder da
população. Dois anos atrás, o Ministério da Justiça falava em
montante de 10 milhões.
A dispersão das estimativas indica o quanto elas são imprecisas. Não se debate, porém, a necessidade de legalizá-las ou tirá-las de circulação, pois são as armas clandestinas que abastecem
o mercado criminoso. De julho
de 2004 a outubro de 2005, perto de meio milhão de armas foram recolhidas. Os registros
emitidos pela Polícia Federal
quase duplicaram em 2005 e
2006, mas o ímpeto arrefeceu.
O próprio governo federal dá
mostras de impotência diante da
enormidade da tarefa. Agarrou-se a medidas tão fáceis quanto
inócuas, agora se sabe, como cortar o valor da taxa de registro de
R$ 300 para R$ 60, ou até suspendê-la, além de adiar por duas
vezes o prazo final de recadastramento (atualmente, 31 de dezembro deste ano). Até agora
não implementou o registro provisório pela internet, prometido
dois anos atrás.
Diante do número diminuto
colhido em setembro, parece
plausível que ocorra uma nova
prorrogação. É um padrão bem
conhecido de efemeridade legal,
que encontra um paralelo recente na chamada Lei Seca.
De início, uma norma dura e
exigente desperta entusiasmo e
adesão. Com o passar do tempo,
torna-se evidente que o poder
público não está aparelhado para
fazê-la cumprir. Sobrevém, então, o retrocesso.
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